Depois da derrota em 66, a crônica
esportiva brasileira foi unânime (ou quase) em afirmar que a seleção brasileira
estava destinada ao fracasso por não praticar o futebol-força. Esse era o
futebol do futuro e fizera sua estréia nos gramados da Inglaterra. Durante
algum tempo ouviu-se essa ladainha nas mesas redondas de domingo à noite.
Nem mesmo Pelé era poupado de ácidas
críticas dos comentaristas daquela época. Ainda me lembro bem de um mantra que
era repetido em tom de verdade absoluta pelos ‘especialistas’ em futebol: Pelé
era fruto dos meios de comunicação. Bom mesmo tinha sido o Zizimo.
João Saldanha foi afinal convidado
para dirigir a seleção nacional que disputaria as eliminatórias para o mundial
do México.
Saldanha, que não era do time dos
vira-latas e xenófilos, convocou uma seleção com o que havia de melhor no
futebol brasileiro. Nomes como Gerson e Carlos Alberto não eram do agrado da
CBD e de seus dirigentes, mas o João Sem Medo deu logo a capitania da seleção
ao Carlos Alberto e encerrou a discussão.
Saldanha mandou o futebol-força às
favas e sua seleção, depois dirigida por Zagalo, é até hoje o símbolo do
futebol arte, do jogo bonito.
Depois da acachapante derrota para a
Alemanha, passa o mesmo. De uma hora para outra, nossa imprensa descobriu que
não jogamos nada, que nossos técnicos são umas bestas, e que estamos fadados a
novos vexames futebolísticos se não copiarmos modelos estrangeiros e
importarmos um técnico.
Os mesmos comentaristas que tanto
falavam da falta de obediência tática de nossos jogadores, que só a adquirem
quando vão jogar na Europa, agora reclamam da falta de brilho individual e
iniciativa pessoal desses mesmos jogadores. Não querem ver que quem os
transforma em robozinhos marcadores e escravos de esquemas são os técnicos
europeus e seus seguidores daqui, que apoiados pela imprensa vira-lata, deram
de exigir de qualquer menino que inicia no futebol, a total ausência de
molecagem, a mais completa submissão aos esquemas.
Nossa crônica esportiva,
especialmente o pessoal da ESPN Brasil (?), deu de falar dos modelos europeus
de administração do futebol como se esses fossem isentos de máculas. Esquecem-se
que a Inglaterra, a Espanha e a Itália (que possuem as três ligas mais
importantes da Europa) foram eliminadas na primeira fase do mundial. A Itália
pela segunda vez consecutiva. Que a Rússia, com seu técnico importado (Capelo)
teve o mesmo fim. Portugal também. Agora a Alemanha é o novo modelo a ser
seguido, tanto no campo quanto fora dele quando de futebol se fala.
Ano passado (ou no anterior, não
estou bem certo) descobriu-se na Alemanha uma máfia que manipulava resultados
do campeonato daquele país. O presidente da federação alemã minimizou o episódio
dizendo que a quantidade de jogos comprovadamente manipulados eram poucos. Ora,
um único jogo cujo resultado é manipulado pode comprometer todo o campeonato.
Pode falsear a verdade esportiva.
Quando eu soube desse caso entrei na
página eletrônica da ESPN Brasil (?) para ver o que encontrava e o único
jornalista daquela emissora a se pronunciar sobre o assunto foi o alemão Gerd Wensel.
Obviamente, a emissora, que transmite o campeonato alemão, não quis nos mostrar
que o seu “produto” carecia de credibilidade.
Ainda a pouco, enquanto os alemães
comemoravam a conquista da copa no gramado do Maracanã, o narrador e bobo da
corte, Paulo Andrade, não economizou nos elogios à seleção campeã. Não ficou no
terreno do campo e bola, ele foi além e falou por minutos sem fim de como os
alemães planejaram a conquista. Esmiuçou, deu detalhes. Quem o escutou deve ter
pensado: _Vai entender assim de futebol alemão na casa do caralho.
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