segunda-feira, 14 de julho de 2014

A vitória alemã e as falácias da imprensa



Depois da derrota em 66, a crônica esportiva brasileira foi unânime (ou quase) em afirmar que a seleção brasileira estava destinada ao fracasso por não praticar o futebol-força. Esse era o futebol do futuro e fizera sua estréia nos gramados da Inglaterra. Durante algum tempo ouviu-se essa ladainha nas mesas redondas de domingo à noite.
Nem mesmo Pelé era poupado de ácidas críticas dos comentaristas daquela época. Ainda me lembro bem de um mantra que era repetido em tom de verdade absoluta pelos ‘especialistas’ em futebol: Pelé era fruto dos meios de comunicação. Bom mesmo tinha sido o Zizimo.
João Saldanha foi afinal convidado para dirigir a seleção nacional que disputaria as eliminatórias para o mundial do México.
Saldanha, que não era do time dos vira-latas e xenófilos, convocou uma seleção com o que havia de melhor no futebol brasileiro. Nomes como Gerson e Carlos Alberto não eram do agrado da CBD e de seus dirigentes, mas o João Sem Medo deu logo a capitania da seleção ao Carlos Alberto e encerrou a discussão.  
Saldanha mandou o futebol-força às favas e sua seleção, depois dirigida por Zagalo, é até hoje o símbolo do futebol arte, do jogo bonito.
Depois da acachapante derrota para a Alemanha, passa o mesmo. De uma hora para outra, nossa imprensa descobriu que não jogamos nada, que nossos técnicos são umas bestas, e que estamos fadados a novos vexames futebolísticos se não copiarmos modelos estrangeiros e importarmos um técnico.
Os mesmos comentaristas que tanto falavam da falta de obediência tática de nossos jogadores, que só a adquirem quando vão jogar na Europa, agora reclamam da falta de brilho individual e iniciativa pessoal desses mesmos jogadores. Não querem ver que quem os transforma em robozinhos marcadores e escravos de esquemas são os técnicos europeus e seus seguidores daqui, que apoiados pela imprensa vira-lata, deram de exigir de qualquer menino que inicia no futebol, a total ausência de molecagem, a mais completa submissão aos esquemas.
Nossa crônica esportiva, especialmente o pessoal da ESPN Brasil (?), deu de falar dos modelos europeus de administração do futebol como se esses fossem isentos de máculas. Esquecem-se que a Inglaterra, a Espanha e a Itália (que possuem as três ligas mais importantes da Europa) foram eliminadas na primeira fase do mundial. A Itália pela segunda vez consecutiva. Que a Rússia, com seu técnico importado (Capelo) teve o mesmo fim. Portugal também. Agora a Alemanha é o novo modelo a ser seguido, tanto no campo quanto fora dele quando de futebol se fala.
Ano passado (ou no anterior, não estou bem certo) descobriu-se na Alemanha uma máfia que manipulava resultados do campeonato daquele país. O presidente da federação alemã minimizou o episódio dizendo que a quantidade de jogos comprovadamente manipulados eram poucos. Ora, um único jogo cujo resultado é manipulado pode comprometer todo o campeonato. Pode falsear a verdade esportiva.
Quando eu soube desse caso entrei na página eletrônica da ESPN Brasil (?) para ver o que encontrava e o único jornalista daquela emissora a se pronunciar sobre o assunto foi o alemão Gerd Wensel. Obviamente, a emissora, que transmite o campeonato alemão, não quis nos mostrar que o seu “produto” carecia de credibilidade.

Ainda a pouco, enquanto os alemães comemoravam a conquista da copa no gramado do Maracanã, o narrador e bobo da corte, Paulo Andrade, não economizou nos elogios à seleção campeã. Não ficou no terreno do campo e bola, ele foi além e falou por minutos sem fim de como os alemães planejaram a conquista. Esmiuçou, deu detalhes. Quem o escutou deve ter pensado: _Vai entender assim de futebol alemão na casa do caralho.

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