Não sou dos que não acreditam em pesquisas. Sou dos que
acreditam na manipulação das pesquisas.
Mas mesmo quando os números divulgados a cada semana não chocam com a
realidade ou, pelo menos, com a realidade que julgo conhecer, as pesquisas têm
o dom de me desconcertar. Veja se não é o caso da pesquisa do Ibope divulgada nessa
terça-feira.
A sondagem da loja do seu Montenegro traz, como todas as
outras, os números divididos segundo vários critérios. No que diz respeito à
escolaridade, vemos que Marina Silva é a favorita daqueles que possuem diploma
universitário. Mesmo tendo caído 5 pontos percentuais desde a última pesquisa,
a acreana ostenta a invejável marca de 33% das intenções de voto nesse
segmento. Dilma subiu 3 pontos e conta com 24% das intenções de voto e Aéreo Neves
manteve 27%. Estaria essa pesquisa manipulada? Ou deveríamos nos perguntar,
como fez a Newsweek depois da releição de Bush:_ Como tantos podem ser tão
burros?
Aqui estaco. Se há algo errado na pesquisa do instituto
favorito das TVs, o erro pode ser corrigido com a ida às urnas dos eleitores no
dia 5 de outubro. Mas o lado sombrio pode estar não na pesquisa, mas nas nossas
universidades.
E aqui abro parênteses. (Nas poucas vezes que entrei numa
universidade eu estava vendendo alguma coisa ou acompanhando alguma moça,
portanto seja qual for minha opinião sobre nosso ensino superior, ela carece de
qualquer intimidade. È tão desfocado quanto os trabalhos universitários sobre a
pobreza brasileira).
A preferência dos mais estudados pela eco-evangélica só pode
ser explicada pelo palavreado. O que liga Marina a essa casta de nossa
sociedade é, sem dúvida, o discurso sibilino. Vá ler o Giannetti e diga se tenho razão ou não. E as faculdades
estão cheias de Giannettis, Pondés e outros que tais.
Darcy Ribeiro, Paul Singer e Florestan Fernandes estão em
baixa entre nossos universitários. O discurso direto desses mestres, seu
conhecimento prático, sua imersão na realidade brasileira são vistos hoje como
passadismo. Um texto que se entenda logo na primeira leitura não merece a
atenção dos inteligentes do país. Daí o gosto pelos “conceitos” de Marina e suas
falas que nada dizem, mas sempre terminam com uma frase de efeito.
Outra possibilidade poderia ser aventada confrontando-se os
dados de escolaridade com os dados de faixa de renda. Poderíamos chegar à
conclusão que os “doutores” e os endinheirados formam o mesmo grupo e apostam
na candidata que, de passo atrás em passo atrás, se mostrou confiável para os
que detêm a grana e o preconceito contra pobres. Mas aí a pesquisa do Ibope nos deixa na mão.
Segundo o instituto, existem no Brasil 3 camadas sociais: os
que ganham até 1 salário mínimo, os que
ganham entre 1 e 5 salários e os que ganham mais de 5 salários. Ou seja, para o
Ibope, você, minha amiga, que rala para pôr no bolso 3 contoiquinhento no fim
do mês, está no mesmo patamar de Madame Itaú e do Eike Batista. Suas
expectativas de governança são as mesmas que as da famiglia Marinho e as do rei
do camarote.
Mas não é preciso ser doutor em estatísticas nem entendido em
pesquisas para saber que a grande maioria dos que concluíram o ensino superior
pertence às classes abastadas da população. Gente que ganha muito mais de 3
contoiquinhento.
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