quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Politicamente correto



Há certas palavras e expressões que eu não uso. Não as uso porque as acho feias, mal cunhadas ou simplesmente estúpidas. Não me refiro aos palavrões nem às gírias. Desses sou cultor e divulgador desde sempre. Falo de certas palavras, algumas são vernáculo e de uso corrente, outras, neologismos. Também não uso gírias de duvidosa origem e expressões de moda, especialidade dos inteligentes que adornam o vazio das idéias com elas.
Por sorte, algumas dessas expressões vão logo embora e não deixam qualquer marca nem no idioma nem no pensamento.
Curiosamente, algumas dessas nefandas expressões e neologismos desagradáveis, eu escutei por primeira vez nos programas da Marília Gabriela. Lembro bem que quando começou a era dos microcomputadores, quando esses aparelhos eram apenas processadores de texto e sequer havia internet, o fetiche por essas maquininhas cunhou um monstrengo lingüístico que só dos lábios da diva das entrevistas eu ouvi.
Foi no meio de uma conversa que Marília questionou seu convidado, que se mostrava fascinado pela novidade:_Você é micreiro?
Claro, a idiotice que queria ser palavra, era filha e irmã de outras que infestaram o linguajar dos 90, como roqueiro, metaleiro, etc. De tão horroroso, o termo não pegou, ou se pegou eu não mais escutei.
Mas o que sim pegou foi a expressão “politicamente correto” da qual derivaram  ecologicamente correto e outras que, felizmente, já esqueci. 
Conheci o “politicamente correto” na voz de Marília Gabriela. Sei que não foi ela que o cunhou. Tenho quase certeza que foi obra de algum publicitário. Parece coisa de publicitário. Pode crer; é coisa de publicitário. 
Nunca usei o termo. O que ele tenta significar, para mim tem outro nome: respeito.
Hoje, tanto a expressão, quanto o conceito, viraram peça de galhofa. Qualquer idiota, qualquer Gentilli, os utiliza em tom despectivo para desmerecer, para desqualificar quem defende que se tenha respeito pelo outro, quem lute contra os preconceitos, quem queira abolir a estupidez nas relações humanas. O termo, de tão artificial, como qualquer propaganda de automóvel, deu margem a isso.
Ontem, li que um advogado carioca abriu uma página numa rede social para apoiar a torcedora racista Patrícia Moreira. No alto da página infame lê-se: “Apoiamos Patrícia Moreira contra a hipocrisia do Politicamente Correto”. O advogado (ah! nossos doutores) culpa a esquerda pelo “politicamente correto” e para defender sua tese (?) adorna sua página com fotos de jogadores negros  ao lado de suas mulheres brancas.
Para o doutor e muitos que comentaram a notícia, lutar contra o racismo é politicamente correto, mas ser politicamente correto é algo que desmerece a pessoa, é um ato de hipocrisia. Segundo esses hipócritas que não assumem de vez seu racismo, sua homofobia, sua misoginia, tudo deveria ficar como sempre foi: negros sendo ofendidos, homossexuais sendo discriminados e mulheres sendo assediadas. Tudo em nome da liberdade de achincalhar.




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