segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Voto útil



A primeira eleição em que votei foi em 1976. Não havia eleição direta para prefeitos das capitais. Me sobrou, para estrear como eleitor, o voto nos vereadores. Naquela época, com o bipartidarismo, só havia dois tipos de voto: contra ou a favor da ditadura.
Um amigo me indicou um ex-colega seu do secundário que tentava a vaga na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte pelo MDB. Na última hora o cara retirou a candidatura por discordar do sistema eleitoral que engessava qualquer tipo de manifestação dos candidatos. Acabei votando nulo. Deixei escrito na cédula “abaixo a ditadura” e me dei por satisfeito. Muito mais que isso não se podia fazer.
Com a redemocratização, participei da primeira eleição direta para governadores. Meu voto seria para Roberto Saturnino Braga, candidato natural do PMDB fluminense, mas o partido negou-lhe a legenda e preferiu lançar o nome de Miro Teixeira, afilhado político de Chagas Freitas.
Após o primeiro debate entre os candidatos ao governo do Rio fiz minha escolha: Leonel Brizola. O PMDB pregava o voto útil. Tratava-se, segundo eles, de fortalecer o partido herdeiro daquele que enfrentara a ditadura e não dividir a oposição.  Muita gente embarcou nessa conversa e ainda hoje me lembro das caras constrangidas de Chico Buarque e Edu Lobo participando da propaganda de Miro.

Passado o pleito, me dei conta de que voto útil tinha sido o meu, pois ajudara a eleger o grande estadista que, ademais, tinha como vice Darcy Ribeiro. Votei em Leonel de Moura Brizola em todas as eleições desde então. Depois de sua morte nunca mais votei tão convicto, tão feliz. 

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