Faz uns vinte anos, pouco mais ou pouco menos, eu estava
sentado nesse mesmo lugar em que me encontro agora, mas onde está o computador
havia um rádio. O assunto que mobilizava os meios de desinformação era o
processo de privatização das estatais.
Para Lilian Fritebife, que na época comandava um dos
telejornais da emissora dos Marinho e opinava nas rádios e jornais do grupo,
tudo estava indo muito devagar e tecia os maiores elogios à Argentina que, sob
a batuta de Menen, tocava a venda de suas empresas públicas como quem vendesse
bananas em fim de feira.
Nesse dia de que falo, outro defensor da entrega de empresas
lucrativas ao capital privado esgrimia seus argumentos numa rádio paulista.
Dizia o homem que, depois de privatizadas, bastaria ao governo retomar o
controle das empresas que não estivessem cumprindo com os compromissos
assumidos e com seu papel social. O argumento me parecia de uma ingenuidade tão
absurda que me levava a pensar em má fé. Somente alguém que ignorasse nossa legislação (feita pelos poderosos para os poderosos) e nosso sistema judiciário (que só garante o interesse dos poderosos) poderia dizer uma coisa dessas. Esse comentarista era o Luis Nassif.
Hoje, Nassif é um dos que defendem o governo em qualquer
terreno. Na época de FHC ele via o PT, que lutou contra as descabidas
privatizações de empresas sólidas e lucrativas, como agente do atraso, como um
empecilho para o progresso e a modernidade. Parece que mudou de idéia.
Bem, só muda de idéia quem as tem, mas um formador de opinião
deveria, ao menos, explicar os motivos de tal mudança. Numa coisa Nassif
continua igual: defende o indefensável. Tanto no caso das privatizações como
nos escândalos do atual governo, sua postura é ignorar os fatos e defender o
poder com pífios argumentos.
Mas, verdade seja dita, eu simpatizava com o Nassif. O cara
toca bandolim, toca chorinho. O mesmo não posso dizer de Paulo Henrique Amorim.
Nunca o suportei. Desde os tempos em que prestava seus serviços às empresas dos
Marinho.
Depois ele foi pra emissora do bispo de araque. Duas
reportagens que ele fez naquele programa de domingo, cópia do Fantástico, eu
assisti. Numa dessas lamentáveis matérias, estava Amorim, o bispo e a senhora
bispa no interior de um carro guiado pelo motorista de sua excelência
reverendíssima. Era uma reportagem desagravo, pois naqueles dias se cumpria não
sei quantos anos da “injusta” prisão de Macedo. O carro passava por lugares que
faziam recordar o funesto episódio. Amorim, com sua irritante voz anasalada, secundava
o chororô do “injustiçado” numa plácida indignação cristã.
Numa outra reportagem eram mostrados jovens americanos que
haviam feito voto de virgindade. Amorim narrava a beleza daquilo. A reportagem,
além do moralismo explícito, apontava a abstinência sexual como a forma mais
eficaz de combate às doenças venéreas e à gravidez precoce. Uma típica idiotice
de puritanos. Amorim dava seu aval.
Hoje, ele é um dos que aplaudem até desastre de trem se o
trem for do Governo Federal. Foi ele quem criou a expressão PIG para designar a
imprensa de direita. Talvez esta tenha sido sua maior contribuição jornalística.
Nassif e Amorim provam
que nosso jornalismo é ruim dos dois lados do balcão.
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