Outro dia, vendo um jogo do campeonato brasileiro pela TV,
ouvi do comentarista que o estádio ganhara bom público minutos antes do início
da partida. O locutor, que era local, explicou que isso se tornara comum depois
da proibição da venda de cerveja na praça esportiva. O pessoal fica nos bares
mais distantes enchendo a cara antes de entrar. Bebe mais, mais rápido e, para
economizar, troca a cerveja por uma branquinha. Uma ou duas. No máximo cinco.
A proibição, que não vigorou durante a Copa do Mundo, é uma
dessas medidas demagógicas e inócuas que nossas autoridades tomam quando não
querem fazer nada. Nenhum torcedor ficou mais sóbrio depois da proibição,
nenhum baderneiro ficou mais civilizado, nenhuma torcida organizada deixou de espancar
e matar rivais, mas quem gostava de tomar uma gelada durante as partidas ficou
impedido de fazê-lo.
Proibir, num país de cunho autoritário como o nosso, sempre
fez sucesso. Jânio proibiu biquinis na
televisão. A ditadura proibia filmes que hoje passam na sessão da tarde. Um
promotor, ou algo que o valha, de São Paulo chegou a proibir as torcidas
organizadas. Não as combateu, não mandou prender seus membros mais violentos,
não puniu seus crimes, não fez nada prático; as proibiu.
As leis proibicionistas que tentam interferir na intimidade
do cidadão têm mostrado ao longo da história sua ineficácia. Isso quando não
geram o efeito contrário ao prometido. Em Nova York funcionavam 500 bares antes
da lei seca. Todos legalizados e pagando impostos. Depois de vigorar por alguns
anos, a lei puritana conseguiu que esse número chegasse a 5 mil. Todos ilegais
e pagando propina à polícia e ao judiciário.
No Brasil não corremos o risco de uma lei seca. A indústria
de bebidas é poderosa e movimenta muita grana. Nosso proibicionismo se volta
contra outras drogas e com o mesmo resultado da lei seca americana: confere
enorme poder econômico e político aos que traficam em grande escala, sujeita os consumidores aos abusos e à extorsão
da policia e corrompe as autoridades que fingem combater o ilícito.
Entre os que defendem abertamente a continuação da política
anti-drogas até aqui praticada, estão os pastores e bispos de araque, a bancada
da bala e moralistas de todos os matizes. Outros defensores do que não dá certo
são os que lucram com a proibição: os grandes traficantes e os policiais que já
contam com o dinheiro da extorsão e da corrupção como parte de sua remuneração.
Por linhas tortas (dando ênfase ao aspecto medicinal da
maconha) a sociedade brasileira parece estar começando a compreender que a
questão da droga e do dependente químico deve sofrer outra abordagem que não a
simples proibição do uso.
Com a nova composição do congresso, de perfil ainda mais consevador, certamente se dará um passo atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário