terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Comunistas por toda parte



Um radical moderado. É assim que a edição digital do “Público” de Portugal qualifica o novo ministro das finanças da Grécia, Yanis Varoufakis.  Confesso que fiquei confuso. Se alguém me dissesse que Fulano é um moderado radical eu entenderia a excentricidade do sujeito. Seria alguém assim como o Ziraldo que certa vez se definiu como um radical de centro.
Mas agora o jornal português deu de chamar o grego de radical moderado e me desconcertou. Fico pensando até que ponto um radical pode ser moderado antes de deixar de ser um radical.
Embora a palavra radical venha entre aspas num dos parágrafos do texto do jornal português, o certo é que para os dias interessantes que vivemos e para a imprensa que tão bem os retrata, qualquer pensamento que fuja uns centímetros do que apregoam os inteligentes do mercado é tido como disparate, radicalismo, extremismo.  Aliás, é assim que o sítio eletrônico da BBC define a posição política do Syriza: extrema-esquerda.
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Antes me parecia engraçado que Jane Fonda fosse tratada nos EE.UU como uma esquerdista radical. Nem o fato de ter ganhado rios de dinheiro com seus vídeos de ginástica ou seu casamento com o milionário das comunicações, Ted Turner, tirou da cabeça dos americanos que Jane Fonda é uma comunista.
Pouco antes do pleito que acabou por levar Barak Obama à Casa Branca, circulou nas redes sociais uma fotomontagem que colocava o havaiano ao lado de Jane Hanói, que é como a direita americana chama a atriz. Associá-lo a Jane Fonda era pôr uma tarja de comunista no então candidato democrata. A reforma do sistema de saúde proposta por Obama veio corroborar, para o americano médio, a tese de que estava diante de um agente vermelho.
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O anticomunismo, boçal e paranóico, também anda fazendo sucesso no Brasil. Há quem insista em ver nos governos do PT um esquerdismo que jamais houve. Desde a “Carta aos Brasileiros” do candidato Lula (que segundo nos conta Antônio Palocci em seu livro “Sobre formigas e cigarras”, foi redigida por ele, Palocci, e João Roberto Marinho, filho de Roberto Marinho)  até o novo ministério de Dilma, nunca houve qualquer esquerdismo nos governos do PT, pelo contrário.
Os bancos, o latifúndio, as empreiteiras e a grande indústria nunca lucraram tanto como nos anos de governança do PT. O baixo nível de desemprego deu-se em função da pujança dos negócios. Ainda assim há gente que vá pra rua marchar contra a cubanização do Brasil. Claro, com Lobão à frente.
Colunistas e palpiteiros em geral vivem comparando a situação do país com a da Venezuela e vendo comunistas por toda parte. Não há fato, por mais gritante que seja, que demova os neo-golpistas de sua inabalável convicção de que estamos prestes a sucumbir numa ditadura comunista.
Agora, com a nomeação de uma equipe econômica que bem poderia fazer parte do governo de Collor, FHC ou do General Geisel, a argumentação da direita mais botinuda, que nunca fez qualquer sentido, fica parecendo coisa de hospício, mas nas redes sociais e na voz de gente como Reynaldo Azevedo e Rodrigo Constantino o discurso anticomunista continua vigente.


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