Um radical moderado. É assim que a edição digital do
“Público” de Portugal qualifica o novo ministro das finanças da Grécia, Yanis
Varoufakis. Confesso que fiquei confuso.
Se alguém me dissesse que Fulano é um moderado radical eu entenderia a
excentricidade do sujeito. Seria alguém assim como o Ziraldo que certa vez se
definiu como um radical de centro.
Mas agora o jornal português deu de chamar o grego de radical
moderado e me desconcertou. Fico pensando até que ponto um radical pode ser
moderado antes de deixar de ser um radical.
Embora a palavra radical venha entre aspas num dos parágrafos
do texto do jornal português, o certo é que para os dias interessantes que
vivemos e para a imprensa que tão bem os retrata, qualquer pensamento que fuja
uns centímetros do que apregoam os inteligentes do mercado é tido como
disparate, radicalismo, extremismo. Aliás,
é assim que o sítio eletrônico da BBC define a posição política do Syriza:
extrema-esquerda.
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Antes me parecia engraçado que Jane Fonda fosse tratada nos
EE.UU como uma esquerdista radical. Nem o fato de ter ganhado rios de dinheiro
com seus vídeos de ginástica ou seu casamento com o milionário das
comunicações, Ted Turner, tirou da cabeça dos americanos que Jane Fonda é uma
comunista.
Pouco antes do pleito que acabou por levar Barak Obama à Casa
Branca, circulou nas redes sociais uma fotomontagem que colocava o havaiano ao
lado de Jane Hanói, que é como a direita americana chama a atriz. Associá-lo a
Jane Fonda era pôr uma tarja de comunista no então candidato democrata. A
reforma do sistema de saúde proposta por Obama veio corroborar, para o
americano médio, a tese de que estava diante de um agente vermelho.
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O anticomunismo, boçal e paranóico, também anda fazendo
sucesso no Brasil. Há quem insista em ver nos governos do PT um esquerdismo que
jamais houve. Desde a “Carta aos Brasileiros” do candidato Lula (que segundo
nos conta Antônio Palocci em seu livro “Sobre formigas e cigarras”, foi
redigida por ele, Palocci, e João Roberto Marinho, filho de Roberto Marinho) até o novo ministério de Dilma, nunca houve
qualquer esquerdismo nos governos do PT, pelo contrário.
Os bancos, o latifúndio, as empreiteiras e a grande indústria
nunca lucraram tanto como nos anos de governança do PT. O baixo nível de desemprego
deu-se em função da pujança dos negócios. Ainda assim há gente que vá pra rua
marchar contra a cubanização do Brasil. Claro, com Lobão à frente.
Colunistas e palpiteiros em geral vivem comparando a situação
do país com a da Venezuela e vendo comunistas por toda parte. Não há fato, por
mais gritante que seja, que demova os neo-golpistas de sua inabalável convicção
de que estamos prestes a sucumbir numa ditadura comunista.
Agora, com a nomeação de uma equipe econômica que bem poderia
fazer parte do governo de Collor, FHC ou do General Geisel, a argumentação da
direita mais botinuda, que nunca fez qualquer sentido, fica parecendo coisa de
hospício, mas nas redes sociais e na voz de gente como Reynaldo Azevedo e Rodrigo
Constantino o discurso anticomunista continua vigente.
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