quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ministro ou despachante?



O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encontrou-se com advogados de empresários investigados pela operação Lava-jato. Se fosse um encontro público, às claras, já seria algo estranho. Por qual motivo os advogados buscariam o ministro Cardozo?  O fato noticiado pela revista Veja e confirmado em parte pelo ministro gerou enorme repercussão. A oposição quer ouvir do ministro explicações sobre o encontro e o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa pediu sua demissão.
Acontece que o encontro não foi às claras como querem fazer crer os defensores do governo e do ministro. O encontro não aparece na agenda oficial de Cardoso. Problemas técnicos no sistema de informática do Ministério da Justiça seriam responsáveis pela falha. Parece até que o Ministério da Justiça usa meu computador para divulgar a agenda do titular da pasta.
Um papo desses de falha no sistema não cola. A agenda era omissa quanto aos encontros porque esses encontros não fazem nenhum sentido numa democracia. Não que sejam ilegais, mas não fazem sentido. O encontro e o fato de não constar na agenda oficial do ministro fez subir a poeira das suspeitas.
Segundo nota do Ministério da Justiça Cardozo teria recebido apenas os advogados da Odenbrecht no dia 5 de fevereiro (a reportagem de Veja conta que advogados de duas empreiteiras participaram do encontro) e ouviu destes que haveria duas eventuais irregularidades “sem nenhuma pertinência com quaisquer decisões judiciais tomadas no caso” que exigiriam providências do Ministério da Justiça. Ainda segundo a nota, o ministro orientou os advogados a protocolarem representação  que se encontra em tramitação no ministério.  Caso não haja falha no sistema de informática e seja tornada pública a representação saberemos que irregularidades são essas que só poderiam ser sanadas pelo ministro.
A defesa do ministro Cardozo feita pela imprensa chapa-branca é uma dessas peças de comédia bufa que só os desesperados e os pouco transparentes interpretam. Insistem que é normal, comum, corriqueiro que o chefe da Polícia Federal receba advogados de pessoas que estão sendo investigadas por seus subalternos. E não estamos falando de qualquer investigado e sim de grandes doadores de campanhas eleitorais e detentores de contratos bilionários com o governo.  Gente que sabe o que nós cidadãos e eleitores nem desconfiamos. Gente que pode dizer nomes, datas, endereços, número de contas. Gente que possui bilhões de qualquer moeda que se fale.
Não, não é comum que o ministro da Justiça receba advogados ainda que o Estatuto da Advocacia preconize tal coisa. Não fora por outro motivo, há o fato do ministro da Justiça ser também o chefe da Polícia Federal. Principalmente nesse caso específico, em que o partido do ministro está envolvido até o pescoço, parece, no mínimo, imprudente que alguém nessa dupla função receba advogados dos presos bilionários.


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