O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encontrou-se com
advogados de empresários investigados pela operação Lava-jato. Se fosse um
encontro público, às claras, já seria algo estranho. Por qual motivo os advogados
buscariam o ministro Cardozo? O fato
noticiado pela revista Veja e confirmado em parte pelo ministro gerou enorme repercussão. A oposição quer ouvir do
ministro explicações sobre o encontro e o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa
pediu sua demissão.
Acontece que o encontro não foi às claras como querem fazer
crer os defensores do governo e do ministro. O encontro não aparece na agenda
oficial de Cardoso. Problemas técnicos no sistema de informática do Ministério
da Justiça seriam responsáveis pela falha. Parece até que o Ministério da
Justiça usa meu computador para divulgar a agenda do titular da pasta.
Um papo desses de falha no sistema não cola. A agenda era
omissa quanto aos encontros porque esses encontros não fazem nenhum sentido
numa democracia. Não que sejam ilegais, mas não fazem sentido. O encontro e o
fato de não constar na agenda oficial do ministro fez subir a poeira das
suspeitas.
Segundo nota do Ministério da Justiça Cardozo teria recebido
apenas os advogados da Odenbrecht no dia 5 de fevereiro (a reportagem de Veja
conta que advogados de duas empreiteiras participaram do encontro) e ouviu
destes que haveria duas eventuais irregularidades “sem nenhuma pertinência com
quaisquer decisões judiciais tomadas no caso” que exigiriam providências do
Ministério da Justiça. Ainda segundo a nota, o ministro orientou os advogados a
protocolarem representação que se
encontra em tramitação no ministério. Caso não haja falha no sistema de informática e seja tornada pública a representação saberemos que
irregularidades são essas que só poderiam ser sanadas pelo ministro.
A defesa do ministro Cardozo feita pela imprensa chapa-branca
é uma dessas peças de comédia bufa que só os desesperados e os pouco
transparentes interpretam. Insistem que é normal, comum, corriqueiro que o
chefe da Polícia Federal receba advogados de pessoas que estão sendo
investigadas por seus subalternos. E não estamos falando de qualquer
investigado e sim de grandes doadores de campanhas eleitorais e detentores de
contratos bilionários com o governo. Gente que sabe o que nós cidadãos e eleitores
nem desconfiamos. Gente que pode dizer nomes, datas, endereços, número de
contas. Gente que possui bilhões de qualquer moeda que se fale.
Não, não é comum que o ministro da Justiça receba advogados
ainda que o Estatuto da Advocacia preconize tal coisa. Não fora por outro
motivo, há o fato do ministro da Justiça ser também o chefe da Polícia Federal.
Principalmente nesse caso específico, em que o partido do ministro está
envolvido até o pescoço, parece, no mínimo, imprudente que alguém nessa dupla
função receba advogados dos presos bilionários.
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