As palavras vão ganhando novos significados com o passar do
tempo. Demagogia, por exemplo, passou a significar qualquer coisa que um
governante faz em favor do povo pobre. Seu sinônimo agora é populismo. Cotas
raciais, renda mínima, inserção social; tudo isso é denominado como demagogia
pelos engravatados que freqüentam os estúdios das TVs, os comentadores do
facebook e os editorialistas dos jornais.
Eu já sou velho para essas novas interpretações e por isso
chamo de demagogia o que meu velho dicionário diz que é demagogia.
Faz pouco tempo, Sua Santidade, o Papa Francisco, doou para
os sem teto de Roma umas centenas de guarda-chuvas que haviam sido esquecidos
por visitantes do Vaticano. Não usou do dinheiro que tem o Banco do Vaticano
para construir casas ou abrigos para os que vivem ao relento, não fez sequer
campanha para arrecadação de fundos exortando os católicos milionários para que
doassem para tal fim. Não, o Papa deu-lhes guarda-chuvas.
Umas semanas depois, o Sumo Pontífice fez que enterrassem um
mendigo nas proximidades das sepulturas de cardeais e outros potentados da hierarquia
romana e pediu que as dioceses fizessem o mesmo. Não falou em dar vida digna
aos que mendigam, não criou restaurantes populares, não mandou construir
hospitais que lhes prolongasse a vida. Mandou-os enterrar junto aos que sempre
viveram bem.
Para culminar foi anunciado que o Vaticano irá proporcionar
visitas “VIP” à Capela Sistina para os moradores de rua. Chuveiros já foram
instalados para o banho dos visitantes que entrarão por onde entram os
funcionários e prelados e farão a visita quando não haja outros visitantes
pagantes nos museus e outras instalações. Isso acontecerá quinta-feira à tarde.
Os cerca de 150 moradores de rua que freqüentam a área do Vaticano terão o
privilégio de apreciar os afrescos de Michelangelo e outros tesouros que a
Santa Sé colecionou durante os séculos. Imagino que um lanchinho seja
providenciado para que ninguém desmaie de fome durante o longo périplo.
Tão evidente demagogia me fez lembrar das visitas que o primo
pobre fazia ao primo rico no humorístico “Balança mas não cai” que eu via
quando era criança. Ainda posso ver a cara de frustração que Brandão Filho, que
interpretava o primo pobre, fazia ao final dessas visitas. Acabei rindo do que
era para chorar.
A agência Reuters, de onde colhi a notícia, não vê nenhuma
graça nem demagogia no assunto e termina sua nota dizendo que Francisco era
conhecido em sua Buenos Aires natal como o bispo das favelas devido às freqüentes
visitas que fazia às comunidades carentes da capital argentina. Segundo a
Reuters o Papa Francisco “fez da preocupação com os pobres uma das principais
preocupações do seu papado.” Tô vendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário