quinta-feira, 9 de abril de 2015

A coisa em si



Nem vou falar do pau, apenas da coisa em si.
Contam que Dom Pedro II foi precursor entre nós. Graças a ele conhecemos algo da intimidade da família real. Logo surgiram estúdios e os mais aquinhoados compravam seu próprio equipamento.
E era assim, uns fotografavam os outros para deixar documento, para recordar uns tempos depois. As paisagens também eram fotografadas. E os animais. E o pôr do sol. Assim era até pouco tempo atrás.
Agora não. Nesses dias interessantes que vivemos o sujeito fotografa a si mesmo. É ele e a paisagem, ele e o pôr do sol, ele e ele mesmo. Uma punheta.
Para os fotógrafos atuais as pirâmides do Egito, as cataratas do Iguaçu ou os canais de Veneza não são nada sem sua presença na foto de viagem.
Antes da era digital já havia dispositivos nas máquinas fotográficas que permitiam que alguém fotografasse a si mesmo. O recurso era usado para que o fotógrafo se incluísse entre amigos e parentes na foto da data festiva, para o registro  do encontro, mas a ninguém lhe ocorria ficar pulando sozinho pra frente da câmera. Havia um acanhamento do narcisismo, um pudor do exibicionismo. Havia senso do ridículo.
Vivemos os dias dos selfies e não há feiúra que acanhe. Estão todos nas fotos que outro não tiraria. E não é preciso pedir a ninguém que as mostre; para isso existe o instagram, o facebook, o diabo. Estão lá, aos milhares, as fotos que ninguém tiraria, que ninguém pediu pra ver, que ninguém quer ver.
E tem o pau, mas como eu disse não vou falar dele. Já seria demais.


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