segunda-feira, 6 de abril de 2015

O uso privado do espaço público



Em artigo publicado no sítio informativo Diário do Centro do Mundo, o arquiteto Rogério Marcondes Machado fala do uso privado do espaço público. Trata  de algo que tornamos natural e que já nem reparamos: o uso das vias como estacionamento de veículos.
Quase todas as ruas e avenidas de nossas cidades estão tomadas por carros estacionados, muitas vezes nos dois lados ou em fila dupla. Se a rua não é das mais largas o espaço ocupado por carros aparcados é maior que o de rodagem.
Se alguém fizesse tal ocupação do espaço público com um sofá e cadeiras e ali acomodasse amigos e parentes para um bate-papo ou usasse da rua para quarar a roupa lavada, certamente provocaria a ira dos vizinhos e demais passantes. A força policial seria chamada para desobstruir a via. Com os carros isso não se dá. Parece que existe alguma lei que diz que é direito inalienável dos motoristas estacionarem onde bem entendem.
Na minha cidade tal coisa não acontece, pois eu vivo em Garopaba, Santa Catarina, no sul do país. Aqui a colonização européia deixou as marcas indeléveis de uma civilização superior. Na minha cidade ninguém estaciona ao longo das ruas. Não, aqui os motoristas estacionam em cima das calçadas. Mesmo que as ruas estejam desertas de carros, os motoristas colocam seus bólidos sobre as calçadas. Se em frente ao local onde o sujeito deseja ir há espaço para estacionar uma jamanta trucada, não interessa: o carro vai pra calçada com as quatro rodas. De preferência na sombra, se há sol ou sob marquise, protegido da chuva.
Os comerciantes, também adeptos e entusiastas da prática, pintam faixas amarelas sobre as suas calçadas (sim, eles acham que as calçadas são suas) e colocam plaquinha: “Estacionamento exclusivo para clientes”. Esses vendeiros não só determinam que a calçada é estacionamento como também quem pode usá-lo em frente aos seus negócios. Carrinhos de bebê, cadeiras de rodas e pedestres que se virem. Para usar a calçada há que se ter um carro e ser cliente de alguém.
Acrescente-se ao problema o tamanho dos carros que a cada dia são maiores e não há novo rico que se preze que não tenha sua 4X4 cabine dupla com varanda gourmet e quadra de tênis. Não há calçada, por mais larga que seja, que os comporte.
O poder público local certamente apóia o uso das calçadas como estacionamento. A polícia não multa ninguém e ninguém reclama.

 A usurpação do que é público por particulares só gera questionamentos e revoltas quando os “usurpadores” são flanelinhas ou camelôs que tentam ganhar a vida no espaço que pertence a todos. Para esses há a mão pesada da lei.

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