Em artigo publicado no sítio informativo Diário do Centro do
Mundo, o arquiteto Rogério Marcondes Machado fala do uso privado do espaço
público. Trata de algo que tornamos
natural e que já nem reparamos: o uso das vias como estacionamento de veículos.
Quase todas as ruas e avenidas de nossas cidades estão tomadas
por carros estacionados, muitas vezes nos dois lados ou em fila dupla. Se a rua
não é das mais largas o espaço ocupado por carros aparcados é maior que o de
rodagem.
Se alguém fizesse tal ocupação do espaço público com um sofá
e cadeiras e ali acomodasse amigos e parentes para um bate-papo ou usasse da
rua para quarar a roupa lavada, certamente provocaria a ira dos vizinhos e
demais passantes. A força policial seria chamada para desobstruir a via. Com os carros isso não se dá.
Parece que existe alguma lei que diz que é direito inalienável dos motoristas
estacionarem onde bem entendem.
Na minha cidade tal coisa não acontece, pois eu vivo em
Garopaba, Santa Catarina, no sul do país. Aqui a colonização européia deixou as
marcas indeléveis de uma civilização superior. Na minha cidade ninguém
estaciona ao longo das ruas. Não, aqui os motoristas estacionam em cima das
calçadas. Mesmo que as ruas estejam desertas de carros, os motoristas colocam
seus bólidos sobre as calçadas. Se em frente ao local onde o sujeito deseja ir
há espaço para estacionar uma jamanta trucada, não interessa: o carro vai pra
calçada com as quatro rodas. De preferência na sombra, se há sol ou sob
marquise, protegido da chuva.
Os comerciantes, também adeptos e entusiastas da prática, pintam
faixas amarelas sobre as suas calçadas (sim, eles acham que as calçadas são
suas) e colocam plaquinha: “Estacionamento exclusivo para clientes”. Esses
vendeiros não só determinam que a calçada é estacionamento como também quem pode
usá-lo em frente aos seus negócios. Carrinhos de bebê, cadeiras de rodas e
pedestres que se virem. Para usar a calçada há que se ter um carro e ser
cliente de alguém.
Acrescente-se ao problema o tamanho dos carros que a cada dia
são maiores e não há novo rico que se preze que não tenha sua 4X4 cabine dupla
com varanda gourmet e quadra de tênis. Não há calçada, por mais larga que seja,
que os comporte.
O poder público local certamente apóia o uso das calçadas
como estacionamento. A polícia não multa ninguém e ninguém reclama.
A usurpação do que é
público por particulares só gera questionamentos e revoltas quando os “usurpadores”
são flanelinhas ou camelôs que tentam ganhar a vida no espaço que pertence a
todos. Para esses há a mão pesada da lei.
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