A Última Hora foi um grande jornal carioca até o golpe de 64.
Seu apoio a Getúlio na crise de 54 indispôs o diário com aqueles que viriam a
tomar o poder com a derrubada de Jango. Depois da quartelada, a Última Hora foi
minguando tornando-se um jornal secundário.
No começo dos anos 80, distanciando-se de sua linha editorial
muito voltada aos assuntos que interessavam ao funcionalismo público, a Última
Hora publicou na primeira página matéria sobre um assassinato cujo autor seria
um justiceiro que ao lado do cadáver deixara um bilhete dizendo que o morto era
um bandido, enumerava os crimes cometidos pelo suposto malfeitor e assinava com
a alcunha de Mão Branca.
Depois dessa reportagem outras vieram. Várias mortes nesse
estilo foram atribuídas ao tal Mão Branca. Para corroborar a existência do
personagem a Última Hora divulgava novos bilhetes deixados pelo justiceiro ao
lado de cadáveres. A população que se
sentia acuada pelos altos índices de criminalidade na cidade do Rio e na
Baixada começou a comemorar os feitos e fez do Mão Branca um herói.
As vendas do jornal dispararam e até um novo parque gráfico
foi inaugurado.
Durante o período que durou o interesse dos leitores pelo Mão
Branca, o esquadrão da morte nadou de braçada e matou à vontade. Ia tudo pra
conta do Mão Branca.
Tendo como exemplo o justiceiro que defendia a “lei e a
ordem” a população resolveu agir também e deu-se início uma série de
linchamentos de supostos infratores. Diferentemente do Mão Branca que era quase
que uma exclusividade da Última Hora, os linchamentos ganharam as manchetes de
outros jornais mais experientes na cobertura do mundo cão. O modo como eram
cobertos esses crimes (desculpando, justificando ou até mesmo elogiando os que
deles participavam) ateava mais lenha à fogueira santa dos justiçamentos por
conta própria.
Em outros momentos da história recente do país (sempre tendo
como pano de fundo uma crise econômica ou política) esses atos de violência
alavancaram a venda de jornais e a audiência dos programas policialescos da TV
que por sua vez incentivaram (seja pela visão acrítica dos fatos, seja pelo
apoio explícito) novos linchamentos, novas atrocidades.
Essa nova onda de linchamentos que agora assistimos teve
início (é bom não esquecer) num episódio acontecido no Rio quando um rapaz foi
espancado e amarrado num poste. O suplício do suposto ladrão foi aplaudido por
Rachel Sheherazade em horário nobre da TV. O que veio depois é apenas conseqüência.
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