segunda-feira, 6 de julho de 2015

Volta Severino!



Um dia, um pensador, filósofo e estadista alagoano que ocupou a presidência do Brasil por um curto período disse citando não sei quem: _”O tempo é o senhor da razão.” Pois é, aquele sábio sabia das coisas. Por vias tortas, mas sabia. Apeado do poder ele voltou triunfalmente para a política e hoje ocupa uma cadeira no senado. É um pai da Pátria. O tempo, senhor do olvido, se ocupou de esfumar as graves acusações que pesavam sobre ele na época em que habitava a Casa da Dinda. Seu povo o reconduziu para as terras secas de Brasília. Lá, ele preside comissões, discursa no plenário e ilumina seus confrades com conselhos e frases edificantes.
O tempo, senhor das amnésias, é o responsável por essa e outras coisas da política brasileira.
Outro estadista, que ostenta o nordestino nome de Severino, não deixou citações quando foi removido da presidência da câmara, mas hoje, o tempo, senhor da justiça, lhe pede perdão.
Severino, embora ocupasse a cadeira de presidente da câmara e fosse o segundo na linha sucessória em caso de vacância da presidência, era humilde. Tudo que queria era um reforço salarial e para isso não recorreu aos cofres públicos. Foi pedir uma mesada ao concessionário do restaurante da câmara. Nada mais normal para os padrões daquela casa de leis. O homem do restaurante dependia do presidente da casa para continuar servindo aos senhores deputados suas frugais refeições. Nada mais justo, pelas normas jamais escritas da política brasileira, que retribuísse a benesse de Severino com algum cascalho. O sujeito mui mão de vaca não quis repartir seus vultosos lucros com o humilde Severino e fez um escândalo danado. Reclamou que estava sendo achacado por Severino. Deu entrevista coletiva ao lado de sua jovem (claro) mulher e chorou (quem não chora, não mama) para constrangimento da senhora esposa e de jornalistas presentes. Severino caiu.
Agora temos Eduardo Cunha na presidência da câmara e o tempo, senhor dos arrependimentos, mostra como fomos injustos com Severino quando exigimos sua destituição do nobre cargo. Diante de Cunha, Severino fica parecendo um menino travesso que, depois de repreendido, nos causa algo assim como ternura.
Severino pouco se importava com os grandes temas nacionais, queria apenas comprar mais umas cabras pro seu sertanejo rebanho, fazer um puxadinho no curral, comprar um votinho aqui outro acolá. O exíguo salário de deputado não bastava e ele teve de recorrer às práticas comuns e usuais na política brasileira. Por ingênuo foi pego.

Eduardo Cunha ainda não foi pego. Talvez jamais o seja. Apossou-se da câmara, dita a pauta do legislativo e acena para o executivo com um pedido de impeachment que ele pode ou não colocar na ordem do dia. Mestre dos golpes de mão, tornou-se imbatível nas votações daquilo que lhe interessa. Para ele nada está acima de seu querer; nem a constituição, nem o regimento interno, nem a vontade dos outros parlamentares. Jamais, mas jamais mesmo, a câmara esteve sob o jugo de alguém tão inescrupuloso, tão salafrário. Depois da ascensão de Eduardo Cunha só nos resta clamar: _Volta Severino! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário