Um dia, um pensador, filósofo e estadista alagoano que ocupou
a presidência do Brasil por um curto período disse citando não sei quem: _”O
tempo é o senhor da razão.” Pois é, aquele sábio sabia das coisas. Por vias
tortas, mas sabia. Apeado do poder ele voltou triunfalmente para a política e
hoje ocupa uma cadeira no senado. É um pai da Pátria. O tempo, senhor do olvido,
se ocupou de esfumar as graves acusações que pesavam sobre ele na época em que
habitava a Casa da Dinda. Seu povo o reconduziu para as terras secas de
Brasília. Lá, ele preside comissões, discursa no plenário e ilumina seus
confrades com conselhos e frases edificantes.
O tempo, senhor das amnésias, é o responsável por essa e
outras coisas da política brasileira.
Outro estadista, que ostenta o nordestino nome de Severino,
não deixou citações quando foi removido da presidência da câmara, mas hoje, o tempo,
senhor da justiça, lhe pede perdão.
Severino, embora ocupasse a cadeira de presidente da câmara e
fosse o segundo na linha sucessória em caso de vacância da presidência, era
humilde. Tudo que queria era um reforço salarial e para isso não recorreu aos cofres
públicos. Foi pedir uma mesada ao concessionário do restaurante da câmara. Nada
mais normal para os padrões daquela casa de leis. O homem do restaurante
dependia do presidente da casa para continuar servindo aos senhores deputados
suas frugais refeições. Nada mais justo, pelas normas jamais escritas da
política brasileira, que retribuísse a benesse de Severino com algum cascalho.
O sujeito mui mão de vaca não quis repartir seus vultosos lucros com o humilde
Severino e fez um escândalo danado. Reclamou que estava sendo achacado por
Severino. Deu entrevista coletiva ao lado de sua jovem (claro) mulher e chorou (quem não chora, não mama) para constrangimento da senhora esposa e de jornalistas presentes. Severino
caiu.
Agora temos Eduardo Cunha na presidência da câmara e o tempo,
senhor dos arrependimentos, mostra como fomos injustos com Severino quando
exigimos sua destituição do nobre cargo. Diante de Cunha, Severino fica
parecendo um menino travesso que, depois de repreendido, nos causa algo assim
como ternura.
Severino pouco se importava com os grandes temas nacionais,
queria apenas comprar mais umas cabras pro seu sertanejo rebanho, fazer um
puxadinho no curral, comprar um votinho aqui outro acolá. O exíguo salário de
deputado não bastava e ele teve de recorrer às práticas comuns e usuais na política
brasileira. Por ingênuo foi pego.
Eduardo Cunha ainda não foi pego. Talvez jamais o seja.
Apossou-se da câmara, dita a pauta do legislativo e acena para o executivo com
um pedido de impeachment que ele pode ou não colocar na ordem do dia. Mestre
dos golpes de mão, tornou-se imbatível nas votações daquilo que lhe interessa.
Para ele nada está acima de seu querer; nem a constituição, nem o regimento
interno, nem a vontade dos outros parlamentares. Jamais, mas jamais mesmo, a
câmara esteve sob o jugo de alguém tão inescrupuloso, tão salafrário. Depois da ascensão de Eduardo Cunha só nos resta clamar: _Volta Severino!
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