Quando eu lia jornais de papel não deixava de ler os classificados. Sempre me divertia buscando por sítios
que nunca compraria, por filmadoras usadas, por máquinas de costura, por quinquilharias em geral. Numa época me interessei por vestidos de noiva. Ainda
me lembro de um anúncio que vi e me intrigou: “Vende-se vestido de noiva sem
uso, manequim 42. Tratar...”
Hoje não leio os jornais, leio o
facebook. E, à moda de classificados, leio as abas que me sugerem amizades,
grupos de interesse, cura para a calvície e o novo santo graal do
emagrecimento. Sem contar o “enlarge your penis” que anda por toda parte.
Na sua digital e proverbial
falta de tato o facebook me sugeriu encetar amizade com uma senhora. Temos sete
amigos em comum. Somos conterrâneos.
Acontece que a tal senhora já era minha amiga e foi assim (através dos
classificados) que eu soube que ela me cortara do seu grupo de amizades e agora
me era oferecida como amizade nova em folha. Me senti como o sujeito que
descobre que é traído pela mulher numa edição do Jornal Nacional. Fiquei
frustrado. Eu gostava das coisas que ela postava. Sempre versos, sempre de sua
lavra. Eu compartilhava os poemas. Ela mandava uma carinha feliz e agradecia. Mas
não me quer mais lendo seus versos. Cortou-me. Paciência.
Foi também por esses
classificados que soube que a camisa que o comentarista esportivo da TV usava
ontem e que me pareceu um atentado ao bom senso está na moda. São vendidas no
atacado e em inglês por $25, 99 (dólares, claro).
Serviços profissionais também
são oferecidos nos classificados do facebook. Disfarçadamente. Na forma de “páginas
que podem lhe interessar”. Um senhor, por exemplo, anuncia-se como
conferencista. O homem não se propõe a dar conferências sobre uma área
específica de seu conhecimento e profissão. Não, o Leonardo contemporâneo dá
conferências sobre um tudo. Imagino que o contratante possa escolher o tema da
conferência a ser proferida como quem sugere um mote para um repentista.Tanta
sapiência é quase tão intrigante quanto à noiva e seu vestido jamais usado.
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