Eu tinha vinte e poucos anos e
havia perdido um amor. Mais de um ano se passara e a paixão continuava intacta,
doendo. Eu sabia que a única maneira de curar aquela dor era me apaixonar de
novo. E eu tentava. Ah, como eu tentava. Mas era só cruzar com Ela pela rua ou
vê-La de longe e o coração disparava.
Lembro de um dia: Ela vinha da
praia e eu descia a Santa Clara. Parou pra falar comigo. Me contou de uma
viagem que fizera. Até hoje não sei quem estava com Ela. Não sei nem o sexo de
quem estava com Ela. Era assim que acontecia: Ela aparecia e o mundo acabava, o
fôlego sumia, as palavras me abandonavam. Eu sofria.
Por vezes eu pensava em desistir
de encontrar outro amor. Era o tempo da amizade colorida e eu tinha umas
amigas. Quando sossegava a libido eu me metia no cinema. Havia um embaixo do
prédio onde eu morava. Vi muitos filmes naquela época. E foi aí que aconteceu.
Passavam “A mulher do tenente
francês”. E lá estava a mulher que eu esperava para me apaixonar com seus
cabelos ruivos cacheados, sua pele pálida, aquelas mãos que falavam. Pois é, eu
me apaixonei por Meryl Streep.
Meryl não era tão linda quanto
Ela nem tinha aquela voz doce e o sorriso espontâneo de menina, mas tinha seus
encantos; uma delicadeza e uns olhares de deixar a gente pensando.
Outro dia a vi (a Meryl). Foi na
entrega do Oscar e ela (Meryl) aplaudia entusiasmada uma colega premiada que no
seu discurso falava de diferenças salariais entre homens e mulheres em
Hollywood. Parece que a discrepância é enorme. Enquanto os galãs ganham 10 ou
12 milhões de dólares para fazer um filme, as atrizes protagonistas têm de se
contentar com apenas 5 ou 6 milhões. Um disparate.
Mas o que me entristeceu foi a
última notícia que li sobre Meryl. Minha antiga paixão (a Meryl) se colocou
contra a legalização da prostituição como sugeriu a Anistia Internacional. Não
estamos falando da regulamentação da profissão e sim de sua descriminalização
pura e simples. Meryl é contra. Os argumentos que ela (Meryl) e outras pessoas
usam para criticar o documento da A.I (que, todavia está em fase de discussão)
são pueris. Praticamente os mesmos usados pelos que defendem a proibição das
drogas.
Claro que vou perdoar Meryl
Streep por esse deslize. Sempre acabamos por perdoar aquelas que amamos um dia.
Mas poxa Meryl, como você é complicada!
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