O Brasil há que reconhecer, perdeu o juízo. Não sei se algum
dia teve, mas definitivamente perdeu o juízo.
E não são apenas os políticos e os cidadãos, as donas de casa e os
latifundiários, os intelectuais e os bicheiros. Não, até os paralelepípedos das ruas e as pedras portuguesas das calçadas parecem
ter perdido o senso.
Não passa dia sem que milhares de usuários da redes sociais e
sítios informativos chamem o governo de comunista. Mesmo que todas as medidas
tomadas, todos os fundamentos da economia, todos os membros do gabinete de
ministros emanem o inconfundível fartum neoliberal, alguns de nossos
concidadãos acusam a presidenta de ser comunista e, através do Fórum de São
Paulo, orquestrar a tomada do poder pelas armas.
Segundo esses especialistas em tramas vermelhas e outras
senvergonhices os agentes do comunismo
já se infiltraram no país disfarçados de médicos cubanos e imigrantes
haitianos. Enquanto aguardam ordens para o levante armado os agentes trabalham
como frentistas e atendem pacientes do SUS. Os americanos, que bisbilhotam até
o que colocamos na sopa, devem estar perplexos com essa nova guerra fria que só
existe aqui.
Mas o que melhor demonstra o grau de maluquice a que chegamos
é que a atual direita brasileira quando tenta se informar sobre os
acontecimentos políticos consulta um astrólogo. Pois é, um astrólogo. Entre um
mapa astral e outro, Olavo de Carvalho usa de seu vocabulário chulo para falar
de política. E há quem o escute e até o cite. Claro que ninguém o lê, mas seus
livros de filosofia, política e astrologia vendem bem e adornam as estantes dos
cidadãos de bem.
Nem nos piores tempos da ditadura e do obscurantismo a alguém
lhe ocorria consultar o Omar Cardoso sobre as questões administrativas ou questionar
a Zora Yonara sobre as votações do congresso. Era cada um no seu quadrado.
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