sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A gostosa e o canalha





            É fim de ano, época de mensagens ternurinha. Elas, que só vinham em forma de cartão cafona até pouco tempo, agora ganham as redes sociais. Muitas vezes as ilustrações que acompanham as mensagens virtuais são tão cafonas quanto os cartões de antigamente, com os mesmos brilhinhos e bochechas rosadas. Parece que a bondade que se quer destilar nesses dias de festas tem de ter purpurina, pisca-pisca e bochechas rosadas. Mas isso é outro assunto.
            O que queria dizer é que algumas mensagens dizem coisas bonitas e até úteis. Uma que vi ontem, dizia que para o ano que vai chegar devemos buscar mais as coisas que nos une do que as que nos separam. E é verdade, afinal se formos olhar bem para aqueles que parecem ser nossos inimigos e adversários, encontraremos muito mais semelhanças conosco do que pensamos.
             Veja o caso das feministas e dos fundamentalistas religiosos. Parecem muito diferentes e no entanto dividem pensamentos e formas de ver o mundo. Basta aparecer uma mulher gostosa de biquini na propaganda de cerveja que esses grupos, aparentemente tão díspares, se unem para uma condenação unânime e inflamada. Tanto as feministas quanto os pastores têm uma ideia preconcebida de qual deve ser o papel da mulher na sociedade e nessa visão não cabe a exposição do corpo para ganhar uma grana. Ambos quando veem uma mulher gostosa vendendo cerveja, veem um desvirtuamento do sagrado corpo feminino.  E em mais uma mostra de coincidência no pensar e agir, tanto umas como outros negam qualquer direito de opinião sobre o tema às gostosas envolvidas.
            Parentescos de pensamento também unem os políticos de diversas correntes. Nesse caso é o canalha quem os une. Dependendo de que lado está o canalha esse será remisso e aplaudido pela facção que o cooptou. Na madrugada passada, enquanto admirava os manjares da mesa alheia estampados na página do facebook, me deparei com uma coluna noticiosa em que Renan Calheiros, que, supostamente, opôs-se ao inominável presidente da Câmara, era nomeado como aquele que, por sua fidelidade à presidenta e grandeza de estadista, evitou catástrofes ainda maiores na política nacional. (Bem, ele não usou exatamente essa palavras, mas estamos em época de sidra e exageros, assim que permita-me a licença poética). Li estupefato o elogio numa página que se quer de esquerda e que apoia, desculpa e louva as realizações do governo. Mesmo tendo como exemplo a recente queda do inominável canalha que por canalhice e oportunismo fazia oposição, quem escreveu o artigo não se acanhou em insinuar que o canalha dele era melhor que o canalha dos outros. Esqueceu-se o articulista que a alma canalha bota preço na fidelidade e, mais cedo ou mais tarde, vai cobrar a conta. Mas aí também a canalhice será o ponto de convergência.




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