quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Decorativo e mal pago





            Michel Temer foi até um certo momento o que se espera de um vice-presidente: um sujeito publicamente discreto. Nos bastidores ele movia seus pauzinhos para nomeações e outros acertos como cabe a qualquer pemedebista que se preze, mas mantinha prudente distância dos microfones e holofotes.
            A imprensa brasileira que estava necessitada de um herói de ocasião depois que seu eleito, Eduardo Cunha, usufrutuário confesso, caiu na boca do povo, resolveu tirar Temer da decoração. Deu-lhe corda e algumas capas nas revistas semanais. Bastou. Picado pela mosca azul, Temer desandou. Contrariando a imagem de político sério e compenetrado que se tinha dele, escreveu uma cartinha para a presidenta. Num típico chororô de dor de corno reclamou, entre outras coisas, do papel decorativo a que fora relegado pela mandatária. Mas o que queria Temer? As luzes da ribalta? Ser jurado do Master chef? Finalista do The Voice Brasil?
            Para que um vice seja protagonista há que haver morte ou desgraça política do titular, o que, diga-se de passagem, não é tão incomum na história recente do país, mas tanto no caso de Tancredo como no de Collor os vices esperaram pelos fatos sem escrever cartinhas nem chorar as pitangas. Se para Sarney e Itamar o prêmio pela discrição e performance decorativa foi a faixa presidencial, para Temer só sobrou o prêmio de "Brasileiro do Ano" da revista Isto É.
            Temer, que tinha como única serventia ser decorativo, tornou-se um estrupício palaciano. Os golpistas de primeira hora vão deixando  o barco furado do impeachment e só Mainardi, Merval e outros pré-pagos vão continuar falando do assunto. Temer vai ficar sozinho nas imensidões do planalto tendo de suportar, até 2018, aquele jeito doce de ser de Dilma. Era melhor ter recebido o prêmio da "Casa e jardim".
         



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