quarta-feira, 6 de abril de 2016

A musa do impeachment

Primeiro eram as pedaladas fiscais que justificariam o impeachment da Presidenta Dilma. Logo viram que não ia colar. Essas firulas contábeis não têm apelo popular, não leva ninguém pra rua. Além do mais, a prática é comum e assembleias legislativas poderiam questionar governadores de todos os partidos que fazem uso do mesmo estratagema. Foram em cima dos desvios da Petrobrás e nada encontraram que pudesse atingir a presidenta. Só paneleiros e analfabetos políticos acreditaram que se pode incriminar alguém sem provas nem indícios. O pior para os golpistas é que o negócio da roubalheira na estatal petrolífera espalhou delação pra todo lado, atingindo emplumados de alto coturno que até então enganavam os incautos.
O espetáculo televisivo ia ficando cheio de lacunas. O que era escondido para não prejudicar aliados do golpe, logo era espalhado pelas redes sociais e pela emissora concorrente que, apenas por motivações de audiência e para fustigar a poderosa, mostrava que no caso Petrobrás ninguém podia posar de santo.
Tinha um outro problema: porta-vozes. Para um bom espetáculo político há que aparecer alguma liderança que indique o caminho e verbalize a "indignação". Tentaram o Aécio, mas o playboy mineiro tem no currículo aeroporto e helicóptero. Depois foi a vez de Cunha e apareceram as muitas contas na Suíça e a madame ostentação. A classe média que amassa suas melhores tramontinas morreu de inveja e como diz o antigo ditado chinês, a inveja é uma merda. Kin Kataguiri só servia pra versão infantil e os outros anônimos indignados só para fazer figuração. Por isso são anônimos. Temer é discreto demais, Lobão é bobo demais, Bolsonaro fascista demais.Ficou o Moro, mas como juiz só deve falar nos autos, sua atuação fica restrita à "reserva moral" e reserva só entra em campo no segundo tempo, geralmente quando já está tudo perdido.
Aí apareceu a moça. Parecia que o problema do "rosto da indignação" estava resolvido. Além de líder poderia ser categorizada como musa. Se desse pra esconder que ela é advogada de um promotor que agredia a mulher e a mantinha em cárcere privado...
Mas veio o discurso do Largo de São Francisco. A advogada, uma das autoras do pedido de impeachment da presidenta e que uma semana antes era entrevistada usando elegante saia e blusa e com seus muitos cabelos reprimidos em espesso laquê, deixou de lado a compostura e o bom senso e vociferou como um Malafaia que recebesse uma pomba gira de frente. Não faltaram os pulinhos e corridinhas pelo palanque nem os falsetes. Na sua fala teve imagem bíblica e citação das lições paternas. Só faltou falar dos filhos e reclamar da entrega das Casas Bahia.
No dia seguinte à sua apocalíptica aparição só sobraram as gozações na internet e muita vergonha alheia. Nem o Jornal Nacional teve coragem de mostrar o triste espetáculo.

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