sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Confissões





            Sexta-feira, 13. Ainda não anoiteceu, mas já me imagino num terreno baldio tendo por única companhia uma rodrigueana cabra vadia. O terreno baldio é o lugar sagrado das confissões e a cabra, o único ser vivente que merece escutá-las
            Vamos às confissões.
            Eu uso pochete. Sim. Discretamente, sob a camisa, fazendo prolongamento da barriga e não sobre ela. É uma pochete Mormaii, que achei no lixo. Sim, eu pego coisas no lixo. Resolvi antecipar umas manias de velhos: pochetes, lixo utilizável, blog, coleção de garrafas vazias... Sei que não viverei por muito tempo e quero usufruir dessas franquias de ser um velho maluco.  Mês que vem inauguro os resmungos e em 2018, vou começar a me fingir de surdo.
            Mas a pochete tem me trazido outras coisas velhuscas. Por exemplo: eu morro de medo de perder a pochete. É nela que carrego meu Minister e o isqueiro Bic, elástico para prender o cabelo em caso de ventania, uma merreca e um alicate de corte. (Não me pergunte o motivo de carregar o alicate de corte. É coisa de velho). E além do mais a pochete foi encontrada em estado de nova. Certamente um presente rejeitado por um velho que não se vê como tal. Me daria muita lástima perdê-la.
            Há outras coisas que gostaria de levar na pochete: uma lanterna pequenina, um ímã e algum remédio. (Aspirina serve). Também poderia levar um pouco de maconha terapêutica num bolsinho metido a secreto que há na parte de trás. E ainda caberia a caixa de óculos de leitura, mas como todo neófito nas lides da velharia, eu sempre esqueço os óculos e fico tentando ver a data de validade dos produtos do supermercado afastando as embalagens tanto quanto o braço alcança.
            Como todo velho recente e inaugural, meu medo, confesso, não é a guerra nuclear, não é a epidemia de ebóla nem sequer o Dória na presidência, meu medo é perder a pochete.
            Por hoje, basta de confissões. Dorme cabrinha, dorme.




           
         

sábado, 30 de setembro de 2017

Não mais





Sempre soube
que não mais
a veria

Por que então
isso
tanto me apavora?




A morte





Não a temo nem desejo
Por que temeria o que é certo
inexorável?

Por que desejaria
o que já é meu
por direito de nascença?




sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Reaça X Reaça





            Veio parar no meu facebook o comentário de um cidadão sobre o Alexandre Frota. Dizia o comentarista: _"O Cara come traveco em filme pornô de quinta e vem pagar uma de moralista." O que esse cidadão não se deu conta é que ao usar o termo pejorativo "traveco" ele se colocou bem pertinho do Alexandre Frota e de outros da mesma estirpe. Quase parça do Malafaia, quase adepto do MBL. 
            Que alguém não queira comer uma travesti eu entendo.. (Acho esquisito, mas entendo). O que não entendo é que uma pessoa que se quer progressista com relação à arte seja tão reaça quando se fala de comportamento sexual.
            Na verdade eu entendo sim. Entendo que nossa sociedade é reaça pra burro, moralista pra burro e relinchante como o Magno Malta.
            Tenho até uma de minhas teorias escalafobéticas sobre o tema. Fico imaginando que se alguém postar nas redes sociais um texto de qualquer notório fascista ou nazista e colocar como assinatura do texto o nome de um filósofo francês (pode até ser um nome inventado), a maioria de nossos concidadãos que se diz anti golpe e fã do Mujica irá concordar com o enunciado. E não só concordar como acrescentar um daqueles comentários que começam com uma de nossas expressões favoritas: "só no Brasil..."..
            De minha parte, todo o carinho e respeito às Monas.





sábado, 23 de setembro de 2017

Humanos e vira-latas





         
            Foi a internet que me fez perder as últimas ilusões com a humanidade. Não que eu lastime ou deplore a tecnologia que nos trouxe essa ferramenta, pelo contrário. Acho a internet uma das maravilhas criadas pelos humanos. 
            Acontece que foi ela que veio nos esfregar nas fuças o que realmente somos: uns imbecis.Sequer a usamos em sua plenitude. Nem em uma mínima parte de suas possibilidades. Se por um lado temos à mão a grande literatura, as ideias mais avançadas, as opiniões mais gabaritadas e toda a cultura do mundo em todas as línguas, o que mais acessamos são joguinhos e fofocas; notícias falsas e catastrofismos; bizarrices e religiosidade fundamentalista.
E, o que é pior, comentamos esses fatos como se tivessem importância. (No caso do Brasil, num português lastimável.)
            No youtube constatamos facilmente o grau de nossa estupidez. Palestras com professores notáveis e aulas que poderiam ajudar a retirar a grossa craca de nossa ignorância recebem alguns milhares de visualizações enquanto "as cirurgias plásticas que não deram certo" ou fotos de "artistas famosos que envelheceram mal" as recebem aos milhões.
            E no facebook...bem, no facebook você sabe como é, mas vai aqui um exemplo: Outro dia uma amiga mineira postou um pequeno texto pedindo solidariedade para com o povo carioca que anda vivendo tempos terríveis de violência e descaso por parte das autoridades que deveriam zelar pela paz social. Um amigo dela, vivente e oriundo da terra de Zezè di Camargo, escreveu nos comentários: "Fodam-se". Fora eu teria excluído o cretino de minha lista de amigos e rezaria minha reza ateia para que Belzebu o levasse logo, mas minha amiga é mais sábia e não se deixa levar pelo figado como eu.
            No entanto, (deixe que eu diga a verdade que me vai dentro) quando pedalo a velha Monark nas madrugadas de minha cidade, me volta a esperança que os primatas metidos a filhos de deuses que habitam o planeta possam ter conserto.Penso nas pessoas boas que conheço e conheci, penso em toda a beleza que vai pelo mundo e que foi construção da mão humana. Por vezes o sol me encontra reconciliado com meus iguais tão diferentes de mim.
Mas ontem, não foi assim..
            Estava desguiando por uma transversal para escapar de um bando de cachorros que haviam me cercado impedindo que eu, saindo da Avenida dos Pescadores, dobrasse pela artéria principal da cidade. Andei quicando por umas ruas empedradas até encontrar asfalto e aí virei. Numa calçada alguém colocou dois potes muito bonitinhos para servir água e ração para os vira-latas que perambulam por aí perseguindo ciclistas insones. Soube da utilidade dos potes bonitinhos porque havia uma plaquinha bem pintada e também muito bonitinha com os dizeres: "Street dogs". Pois é, street dogs. Foi a pá de cal nas ilusões.





terça-feira, 5 de setembro de 2017

Aos que choraram





Não me interessam os que
contra todas as adversidades
triunfaram.

Não me impressionam os que
sobre todos os percalços
venceram

Não me cativam os que
imperturbáveis
seguiram adiante

me importam os que sucumbiram
me inquietam os que perderam
me comovem os que choraram.








quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Espartilho





Um espantalho andarilho
se encontrou com um espartilho
_Para aonde vais, protetor do milho?
_Ora, para Esparta, meu filho




Nossos fracassos





            Como se fosse uma série de terror, numa mesma temporada se elegeram Menen, Fujimore e o infame Collor de Merda. No Brasil, ainda havia boas opções, como nos disse Leonel Brizola no último debate do 1° turno. Brizola pedia aos eleitores que dessem um não rotundo às candidaturas de Maluf e Collor. Dizia até que quem não gostasse dele que votasse em outros candidatos que não representassem o atraso como o alagoano e o paulista. "Há gente digna concorrendo" dizia o estadista.
             Na Argentina, não havia tal opção. A única outra candidatura viável era a de Angeloz, outro representante do mesmo projeto neo-liberal. No Peru, dava-se o mesmo. Vargas Llosa era a outra voz do conservadorismo que disputava a presidência do país andino.
            E começaram as privatizações. Collor sequer servia para fazer o serviço sujo do entreguismo e logo foi sacado do comando da nação com o auxílio nada luxuoso da Globo. Fernando Henrique foi o nome escolhido para vender o país a preço de banana em fim de feira. Para a Globo, o "mercado" e seus porta-vozes, FHC andava meio lento com as privatizações e lembro da Lilian Fritebife dando uns ataques ao vivo no Jornal da Globo e elogiando Menen, que vendia rapidinho todo o patrimônio argentino incluindo las palomas de la Plaza de Mayo
            Outro que também advogava pelas privatizações era o Luís Nassif. O neo-petista naquela época era neo-liberal. Ainda me lembro de um dia em que ele fazia a defessa da entrega com argumentos tão fajutos que quem o escutou logo pensou, assim como eu, em má fé ou algo pior.
            Fernando Henrique, que recusava a pecha de neo-liberal, foi mais competente que Collor e torrou tudo. Lá se foram a Vale e tantas outras empresas de telefonia, eletricidade e recursos minerais para as mãos cobiçosas do empresariado externo e para alguns nacionais que se associavam ao capital gringo e enchiam a burra depois, vendendo sua participação no negócio. Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica e Petrobrás escaparam da sanha privatista por milagre ou, quem sabe, pelo resto de  escrúpulos que ainda possuía FHC. Escrúpulos que o tempo extinguiu.
            Com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder, gente ingênua como eu pensou que o processo poderia ser revisto e que nosso patrimônio poderia voltar a pertencer à Nação. Qual nada. Faltou vontade, faltou coragem, faltou culhão. Claro que se eu e outros babacas tivéssemos lido com atenção a "Carta aos Brasileiros", essa ilusão não teria durado mais que o tempo de um leilão na bolsa de valores. Em favor de Lula e Dilma, pode-se dizer que, pelo menos, não entregaram nada mais que o prometido na "Carta".
            Onde quero chegar com essa arenga? Ora, no óbvio. Que os males perpetrados contra o Brasil e sua população por este governo ilegítimo e corrupto que aí está, dificilmente serão revogados ou revistos ou anulados, mesmo que o governo eleito em 2018 (se houver eleições) seja de perfil progressista. Certamente haverá uma nova carta aos brasileiros para tranquilizar os beneficiários da rapinagem. A origem de nossos fracassos é a falta de coragem.




         
         

sábado, 26 de agosto de 2017

terça-feira, 25 de julho de 2017

Música



Eu passaria horas seguidas
escutando
a melodia sinuosa
o som grave, quase áspero
o tom cortante e impositivo
os silêncios perturbadores
a cadência marítima
a harmonia luminosa
a música
de tua voz.







quinta-feira, 20 de julho de 2017

Memórias II





            Agora me lembro. Eu continuei morando com os caras. Foi nesse mesmo lugar que transei pela primeira vez  com a Aninha. Ainda doía a separação com a Moça mais bonita de Copacabana, mas, sabe como é, eu gostava da fruta
            Aninha era uma paulista baixinha, gordinha e sexy. Também militante da Convergência Socialista como os caras com quem eu vivia. Nosso relacionamento não era namoro. Era uma amizade colorida, como estava na moda naqueles dias.  Depois daquela primeira transa  seguimos  transando, ora no apartamento do Catumbi, ora em sua casa. Ela morava em Niterói, na Alameda São Boaventura. Depois se mudou pra outro endereço na antiga capital fluminense.
            Na Alameda passamos bons momentos. Aninha financiava uns almoços num restaurante da área que servia um strogonoff de camarão da pesada. Estreei com ela o novo apartamento. Foi num dia que nos encontramos no centro do Rio. Acho que foi no Amarelinho ou no Circo Voador. Como eu me encontrasse totalmente bêbado, Aninha falou pras amigas que ia me levar apenas pra me  por  na cama. Que nada! Transamos como nunca naquela madruga e fomos acordados pelo porteiro, porta-voz dos indignados vizinhos que tinham assistido nosso amor pela janela ainda sem cortinas.
            Mas o que eu queria contar é outra coisa ocorrida na casa do Catumbi.
            Como eu não contribuía financeiramente pra nada, tentava ser útil em outras coisas. Dava umas arrumações, lavava o banheiro e mantinha a cozinha em ordem. A rapaziada trabalhava e militava o dia inteiro e só vinha pra casa altas horas. Todos chegavam sempre alegres. apesar do cansaço e dos riscos da militância naqueles dias bicudos da ditadura.
            Um dia achei umas coisas na geladeira e fiz uma sopa de sustânça  Modéstia às favas, eu me viro bem na cozinha. Não sei fazer nada de especial, mas mando bem no trivial simples. Justo naquela noite, Ciro Garcia e Maurício tinham levado as namoradas pro nosso bioco. Todos e todas elogiaram a sopa. Na manhã seguinte, pus a panela de molho pra desgrudar os restos que ficaram agarrados no fundo e me mandei. Dormi na casa de uma moça que havia conhecido dias atrás.
            Quando voltei na noite seguinte, fui novamente elogiado pela sopa. O pessoal havia comido o resto que eu havia deixado de molho pensando que era a sobra do rango do dia anterior. A grana era pouca, a fome era muita.  Eu não falei nada. Recebi os elogios e fui dormir.
            Tempos depois, nesse mesmo apartamento, houve a briga com a Magda que me levou outra vez pro Souza Aguiar e pro olho da rua.
           

Memórias





            Foi um tampo difícil. Eu não tinha onde morar. Andei uns dias dormindo na praia e meu amigo Maurício me deu uma cobertura. Me chamou pra morar no apartamento que ele dividia com o Mancha Negra e o Ciro Garcia, ali entre o Catumbi e Santa Teresa.
            Eu não tinha emprego, não tinha guarita, não tinha nada, estava fudido, mas namorava a moça mais bonita de Copacabana. Um dia, pisei na bola, pisei feio na bola e perdi a moça mais bonita de Copacabana. Bêbado, tentei me matar cortando o pulso, só um. Acordei numa escadaria próxima do lugar onde vivia; aquela buceta aberta no braço. Tinha saído do apartamento pra não provocar problemas pros caras com quem vivia. Desci o morro e fui esperar condução que me levasse pra algum hospital. Cheguei na Itaperu e uns caras que estavam do outro lado da rua vieram me assaltar. Um deles chegou na boa  e disse que só queria uma grana pra cerveja. Ao ver a buceta aberta no meu braço e ouvir minha explicação, o cara ficou solidário e parou um táxi
            Eu fui logo dizendo pro taxista que estava duro, que ele podia me deixar no próximo ponto de ônibus, que eu me virava, mas o cara foi legal e me levou até o Souza Aguiar. Era a segunda vez que eu dava entrada ali. Outra bebedeira, outra costura numa madrugada de sexta pra sábado.
            Saí do hospital e já sabia o caminho do botequim mais próximo. depois daquela 51 tem uma lacuna na memória. Não lembro sequer se continuei morando com os caras.
             

terça-feira, 18 de julho de 2017

Karnal, o comunista improvável





            Eu gosto do Leandro Karnal. Admiro seu humor, os temas que aborda em suas palestras e principalmente admiro no calvo professor algo que me falta: cultura. Sempre que encontro alguma manifestação sua, assisto, leio, escuto e, apesar de minha pouca acuidade, vou aprendendo algo com ele. Ademais, Karnal é um tipo de personagem em extinção: o conservador lúcido.
            Ontem, me deparei com um áudio no qual Karnal falava para um programa de rádio sobre a condenação de Lula e outros episódios da vida política brasileira nesses dias interessantes que vivemos. Não sei qual rádio era nem o nome do programa e tampouco quem era o jornalista que o entrevistava. O áudio estava numa página do youtube que pertence a um grupo de direita que se chama "A resistência". Pelo que entendi, Karnal fala com regularidade no tal programa.
            Para dizer a verdade quase abandono a audição por vergonha alheia. Acontece que já no primeiro minuto o jornalista confundiu o Paraguai com o Uruguai. Mas, como não havia ninguém por perto e eu estava usando fones de ouvido, segui escutando.
            Ainda que constrangido não pude concordar nem com os enunciados do jornalista ruim de geografia nem com as respostas do mestre. Karnal é um otimista profissional e eu, devo admitir, ando num pessimismo de dar nojo no que tange ao futuro do país.
            Mas com Karnal e outros de sua estirpe, aprendi que discordância é algo bom se fizermos dela um estribo para o pensamento crítico. Infelizmente, creio que estou entre uma minoria que. tal qual o conservador lúcido, se encontra à beira da extinção. Cheguei a esta conclusão lendo os comentários de outros que supostamente ouviram o áudio.
            Como já disse a fala de Karnal estava hospedada numa página de direita. Da direita mais botinuda. Dos quase vinte comentários que li, uns quinze deles chamava Karnal de comunista, de esquerdista, de professor doutrinador marxista.Muitos pediam seu exílio em Cuba (criticada por ele no áudio) ou seu fuzilamento.
            Mesmo que eu nunca tivesse escutado as palestras e outra falas de Karnal. ainda assim, sua participação no programa não teria me deixado dúvidas de ser ele um conservador, um homem a quem o comunismo causa, no mínimo, rechaço. Homem acostumado à cátedra e às palestras, Karnal é didático e sabe expor o que pensa como poucos. Só mesmo alguém totalmente desprovido de cérebro pode chama-lo de comunista. Fica claro nas opiniões dos ouvintes da rádio e leitores do grupo direitista que quem não é boçal, é comunista. Que quem não xinga é doutrinador marxista. É por causa desses comentários e outras manifestações de meus compatriotas que ando pessimista quanto ao futuro do Brasil e da humanidade que aqui habita.




terça-feira, 20 de junho de 2017

Beijo





Um beijo apaixonado
será o maior acontecimento
na tua vida.

Não te iludas
com o que sobrevier a isso

Serão apenas
as pompas do mundo.






A moça mais bonita de Copacabana





Se um dia você pensou
que sua garota
era a moça mais bonita
de Copacabana

Ah! meu amigo,
isso era amor.









sexta-feira, 9 de junho de 2017

A esquerda paranoica





            A esquerda brasileira tem algo a aprender com a direita? Eu acho que não. Nossa direita é tosca, primitiva e boçal. Hoje, sua principal liderança é Bolsonaro. Os outros (Temer e sua gang) estão aí apenas para fazer o serviço sujo do entreguismo e da precarização do trabalho. Claro, também estão se empenhando para destruir a educação pública e a saúde. Mas não é gente que se possa chamar de direita ideológica. Prova disso é que desde o presidente ilegítimo até seu mais cretino ministro, todos, ou quase todos, passaram pelos governos petistas desempenhando importantes funções. Não é gente de ideias, é gente de negócios.
O Cuspido, que está há duas décadas no legislativo sem produzir nada, tomou o lugar de líder direitista por falta de concorrentes.
No entanto, muitos eleitores da esquerda brasileira agem como que copiando a maneira de agir da direita mais boçal, mais botinuda. O ódio patrocinado pela imprensa golpista que levou milhares às ruas pedindo a deposição de Dilma, parece que criou raízes entre petistas de várias tendências. E a esquizofrenia paranóide , tão presente entre os direitistas que acham que Lula, FHC e Martinha Suplichic são comunistas, também enraizou-se entre os eleitores do PT.
Durante o julgamento do mensalão, as opiniões sobre os membros da Corte Suprema variavam de acordo com seus votos nesta ou naquela questão. Lewandowski, que era herói da resistência virou vilão durante as discussões sobre os embargos infringentes. Com Celso de Melo deu-se o inverso. Barbosa foi demonizado por seu relatório desde o começo, pois a mediocridade que assola nosso país não admite o debate nem a opinião divergente.
Mesmo os jornais, devidamente execrados por sua participação no golpe, ganham postagens de suas matérias críticas ao atual desgoverno por parte de petistas e simpatizantes como se fossem os porta-vozes da verdade. Não passa uma semana sem que algum artigo da Folha de São Paulo seja citado, copiado ou reproduzido nas redes sociais por gente que deveria ter asco até de lê-los devido à procedência.
A bola da vez na esquizofrenia petista é Leandro Karnal. Até pouco o historiador recebia elogios por sua postura anti-golpe e pela defesa do estado de direito. mas desde que publicou uma foto em que jantava com o Juiz Moro, aqueles que postavam seus comentários e entrevistas agora o odeiam. Sim, odeiam. Não divergem, não criticam. Odeiam.
Eu, sinceramente, não sei o que Karnal viu em Moro para ir jantar com ele. Karnal me parece um homem de grande cultura e discernimento enquanto Moro eu vejo como um juizinho provinciano a quem a sorte deixou cair no colo um rumoroso processo de corrupção e ele usa esse poder e fama repentinos para promover perseguições políticas, principalmente contra o ex-presidente Lula.
Mas o fato de eu não entender a aproximação do historiador com o inquisidor não significa nada. Absolutamente nada. Tenho amigos que considero inteligentes e com sensibilidade poética e que, no entanto, gostam da "poesia" de Renato Russo. E assim como não me importa o gosto musical desses amigos e sim a amizade que me brindam, não me importam as companhias de Karnal e sim sua visão como pessoa pública sobre o desmonte da educação e a ilegitimidade desse governo que aí está. Vou continuar a assistir suas palestra que estão no youtube e tentar aprender algo com elas como tenho feito há algum tempo.
Quanto a Moro, nem quero ouvir falar.









sexta-feira, 2 de junho de 2017

A questão





não tem nada a ver com arte
com estética
com expressão

a questão é bem mais simples:
se eu não respiro
eu morro




quinta-feira, 1 de junho de 2017

O que importa





Na poesia e na vida
só há dois temas que importam:
o amor e a morte.

E,
talvez,
a experiência com a beleza
que também é coisa de amor e morte.









terça-feira, 30 de maio de 2017

Pesadelo's Bar





Ambiente familiar
alegre e descontraído
Atendimento personalizado
Barman show
Happy hour
Musica ao vivo
com o melhor de Renato Russo
na voz de Annalise
No cardápio
pastel de brócolis, sopa vegana e panqueca de berinjela
sorvete de açaí
café expresso com creme e canela
caipirinha de frutas vermelhas
e a melhor cerveja artesanal
Promoção de guacamole
no dia do amigo
Desconto de 10% para fantasiados
no Halloween
Aberto todos os dias
das seis às dez e meia.
Reservas para aniversários e encontros corporativos.





terça-feira, 23 de maio de 2017

O romântico do São João Barista





Ele andou pelas ruas de Copacabana
com aquele buquê enorme
eram rosas brancas e amarelas
e mais umas florzinhas miúdas

Da Miguel Lemos até o túnel velho
parou em muitos botequins
comprou cigarros, bebeu conhaque
tomou cerveja para refrescar

Levava seu terno branco
e uma flor na lapela
ele também uma parte do buquê
com seu sorriso sério

Quem o viu passar
pensou num incorrigível romântico
daqueles que às duas da tarde
levam flores para a amada

Cruzou o túnel sem pensar nas flores
apenas aspirando o odor a mijo e umidade
o bafo quente e o barulho dos carros
arrefecendo-lhe os passos

Chegou ao São João Batista
percorreu as alamedas contemplando
a última morada dos ricos
e atirou as flores sobre um túmulo qualquer.

Diante da morte
Ele não fazia discriminações



quinta-feira, 4 de maio de 2017

Paixão





            Um amigo do facebook que gosta de saber o que os outros pensam e fazem, perguntou se seus amigos virtuais estavam apaixonados. Numa das respostas uma moça disse que sim e que estava odiando isso.
            Ontem, também no facebook, havia uma dessas ilustrações que querem ser cômicas em que outra moça debaixo do chuveiro dizia que estava apaixonada e perguntava ansiosa se isso saía no banho. Muitas outras manifestações com esse mesmo teor vieram parar na minha página da rede social. 
            Confesso que não entendo o que se passa com essa gente.Não consigo lembrar de um momento feliz de minha vida em que não estivesse apaixonado. Mesmo que algumas dessas paixões não fossem correspondidas, o fato de me sentir apaixonado por alguém é o que dava sentido às coisas, à vida
            Mas houve ocasiões em que minha paixão encontrava eco e espelho e uma moça também estava apaixonada por mim e então a paixão era a felicidade, a alegria. (Ela sorrindo ao me ver, ainda do outro lado da calçada e meu coração aos pulos dizendo coisas que instantes depois eram traduzidas pelos beijos). Nesses dias a vida tinha razão.
            Por que será que hoje em dia a paixão causa tanto medo e repulsa? Será que os que assim se manifestam nunca se apaixonaram de verdade e nem sabem do que estão falando? Como alguém pode querer viver o marasmo de uma vida sem paixão? Coisas do mundo líquido?




quarta-feira, 3 de maio de 2017

A feiticeira.





            Viajei na maionese. (Será que alguém ainda fala isso?). Quando soube da condecoração de Luciano Huck pelas forças armadas me pus a pensar o que teria motivado nossos generais, brigadeiros e almirantes a concederem a honraria ao apresentador de TV. Que serviços teria prestado Luciano  à pátria? Seria o programa que dá coisas para pessoas despossuídas? Seria sua posição política favorável ao golpe? Acho que não. Luciano foi agraciado com a medalha do mérito militar por suas criações artísticas e culturais. Sim, afinal foi ele que introduziu no imaginário dos anos 90 as figuras da Tiazinha e da Feiticeira e a cultura brasileira nunca mais foi a mesma.
            Mas minha viagem à maionese mesmo foi quando, tangido pela curiosidade e algo mais, fui visitar as fotos das musas. Descobri que a moça que personificava a Tiazinha teve umas questões mal resolvidas com a personagem, mas depois se reconciliou com o passado e que a Feiticeira virou evangélica.
            No meio das fotos em que se vê a Feiticeira do Huck mostrando a exuberância de sua bunda que agora é uma bunda de Cristo, há também várias imagens de Elizabeth Montgomery, a feiticeira da série de TV dos anos 60. Nunca me canso de ver aquele rostinho. Montgomery me parece linda, encantadora, apaixonante.
            Uma das notícias associadas a ela nos conta que cogita-se a volta do seriado. Não o original, mas sim uma nova montagem. Claro, o espírito do seriado talvez não mais se coadune com os dias de hoje.Não nos esqueçamos que o marido de Samantha não consentia que ela usasse de feitiçaria para ajudá-lo nos negócios de publicidade da agência Lary e Tate. E ela.que como boa dona de casa americana daqueles anos, não trabalhava fora, fazia seu trabalho doméstico como qualquer mortal. Só às vezes usava de seus poderes para dar uma arrumadinha quando algo saia do controle.
            Será que o marido de Samantha com seus pruridos seria aceito pelo público de hoje? Creio que não. Vivemos tempos líquidos. Líquidos e sem vergonhas.




Avaro





Não  devolverei as cartas de amor
que nunca trocamos
tampouco a foto que me deste
e que rasguei na esperança de esquecer-te 

Não devolverei os raios de sol
que puseste em meu caminho
e que agora são minha única luz
(deles necessito para viver)

Não devolverei os sorrisos
nem as palavras que ainda escuto
no doce som de tua voz
(minha música, canção de ninar saudade)

Não devolverei um só minuto
por pura avareza de felicidade
nem as alegrias infinitas que havia
em cada instante que passei ao teu lado

Não devolverei o cheiro de mar
que vinha dos teus cabelos
e muito menos o mar imenso do teu amor
que eu não soube atravessar.











segunda-feira, 24 de abril de 2017

Topadas





Melancolias, charutos e vinhos finos
eu deixo para os que deles fazem bom uso
Prefiro os sentimentos e paladares fortes
esse tabaco preto, essa cachaça, esse rancor

Às nuvens prefiro o chão que calco
com os sapatos e a alma gastos
carícia de pedregulhos e saudades
São as topadas que me levam adiante.






















segunda-feira, 17 de abril de 2017

O trapezista César Galindo





Quando era menina
Se apaixonou por César Galindo
o trapezista moreno vestido de lantejoulas
e sonhou em fugir com o circo

Muitos anos depois
e distante muitos quilômetros
da cidade onde nascera
encontrou o mesmo circo

Com o coração aos pulos
aproximou-se de um moço moreno
que mostrava os mesmos músculos de César Galindo
o mesmo cabelo de César Galindo
o mesmo sorriso de César Galindo

Imaginou-o no trapézio com a roupa colante
coberta de lantejoulas
numa tríplice pirueta
sob o rufar dos tambores

Perguntou-lhe se era trapezista
ele disse não
também não era domador
nem mágico nem malabarista

Mas afinal o que fazia ele no circo?
O rapaz ajeitou seu cabelo à César Galindo
e disse-lhe com seu sorriso de César Galindo:
_Solda e eletricidade.





domingo, 9 de abril de 2017

Mosca





A mosca
azul e zumbideira
pousou
no prato de macarrão
azar dela.
A mosca subestimou
minha fome.




sábado, 1 de abril de 2017

Parafusos





            Você vai desmontar um troço que tem uns oitenta parafusos. Vai desatarraxando um por um e chega naquele que não sai nem pelo diabo. Você bota óleo, dá aquela marteladinha que só você sabe dar, tenta usar outra chave e nada. Bem, você passa para o próximo e vai até o fim. Mas no final das contas tem de encarar o maldito. 
            Depois de uns dois litros de suor e alguns palavrões bem aplicados (a palavra tem poder) ele acaba cedendo, não de uma vez, mas aos poucos. Você se sente como o verdadeiro homo sapiens, aquele que sabe usar ferramentas como o homo habilis com a vantagem de saber usar também os devidos palavrões. Por fim a última volta e ele sai todo enferrujado, meio torto, derrotado e a porra que você tentava desarmar cai aos pedaços, pesada, maciça, dolorosamente sobre seu pé. Parece a vida.





quarta-feira, 29 de março de 2017

Tânia





Tânia fez curso de maquiadora
e largou a prostituição
conseguiu emprego num salão do subúrbio
e pra complementar a renda
faz salgados que vende para as moças do salão
e outros comerciários do bairro.

Os salgados fazem sucesso
e seu trabalho na maquiagem já é o mais requisitado
por noivas, madrinhas e sogras
Tânia é boa em tudo que faz

Me contou que de seus tempos de calçada
só sente saudades dos elogios que recebia
por seus seios pequenos e duros
e por seu pau sempre duro e enorme.




terça-feira, 21 de março de 2017

18 anos





Entre as manhãs sonolentas
e as noites ociosas
as tardes me escorriam
entre os dedos.










Amar





Há mar nos teus cabelos
há mar no som do teu riso
há mar e marulho e maresia
quando povoas meus sonhos

Há mar e outros encantos
quando passeias
na minha lembrança
Há mar e marulho e maresia

Há mar nas tuas mãos
há mar e marulho e maresia
nos teus pés nas tuas ancas
na tua saia que brinca com o vento

Há mar e marulho e maresia
quando penso que te lembras
daquelas noites quentes
em tua cidade calorosa.








segunda-feira, 20 de março de 2017

A suruba, ou melhor, o foro privilegiado





            O que acontece quando um rico, um ricaço é julgado por algum crime? O filho de Eike Batista, por exemplo, depois de dirigir em alta velocidade e matar uma pessoa foi condenado a pagar cestas básicas ou algo que o valha. O filho de Eike não tinha nem tem direito à foro privilegiado. Foi julgado na primeira instância e sua condenação demonstrou o que vale a vida de um pobre e a de um rico para a justiça brasileira.
            Se fosse outro tipo de crime e o juiz de primeira instância tivesse a ousadia de condenar algum milionário a uma pena de reclusão ou a algum ressarcimento pecuniário de grande monta, certamente os advogados desse endinheirado iriam recorrer e o caso fatalmente iria parar no Superior Tribunal de Justiça. Mesmo tendo sua condenação confirmada por essa corte os advogados encontrariam alguma brecha no processo, alegariam inconstitucionalidades e levariam o caso ao STF. Quanto tempo teria transcorrido desde o primeiro julgamento até o veredicto do Supremo? Certamente mais de uma década. Possivelmente o crime já estaria prescrito.
            Mesmo que pelas novas normas já se possa prender o réu após a condenação em segunda instância, se o caso não for de reclusão e sim de indenização ou algo parecido, nenhum rico pagaria o que deve antes de esgotar todos os recursos.
            No Brasil, todos, ou quase todos, os políticos são ricos e ademais do poder financeiro têm o poder de mando e influência em nomeações e transferências de quem lhes é agradável ou não.Será que algum juiz de primeira instância teria a coragem de condenar Renan Calheiros ou Romero Jucá, por exemplo? Talvez sim, mas sem dúvida qualquer processo envolvendo esses senhores iria parar no Supremo.
            Toda essa minha arengação é para dizer que a extinção do foro por desempenho de função que abriga políticos é um tiro no pé da sociedade. Todos eles seriam julgados no STF no final das contas. Com a diferença que o processo levaria alguns anos mais.
            Mas eu devo estar errado. Se o Jucá é a favor da permanência desse privilégio, meu raciocínio deve estar errado.




           

Deus





Deus é um pobre diabo
atormentado pelo que
(sem medir as consequências)
criou.

Deus sabe que malversou seu tempo
e anda, por vezes,
atarantado, aturdido

em outras é consumido
pela mais cava e profunda
depressão

Deus não estava preparado
para assumir a responsabilidade
por seu mais ambicioso projeto

Deus precisaria de mais sete dias
sete longos dias com suas noites e madrugadas
para reparar os danos e corrigir os rumos

mas Deus não tem mais tempo
Deus está morrendo




quinta-feira, 9 de março de 2017

Cala-te





Cala-te
cava um buraco bem fundo
e enterra tuas dores.
Não as conte, não as divulgue
Ninguém se interessa
(eu não me interesso)

Conserva teus pesares
como coisa tua
tua única posse
teu único bem terreno.

Quando quiseres
desenterra o que doeu
e faz daquelas dores
tuas amigas
tuas únicas amigas.








quarta-feira, 8 de março de 2017

Para beber sozinho





Para  beber sozinho
o sujeito tem de  ter uma alma
ou pelo menos
duas das muitas metades de uma alma.
é preciso ter
aquela metade que acolhe as dores
e  outra que as chora.

Para beber sozinho
faz falta uma paixão
que não se cumpriu
faz falta ter lembranças
de coisas mínimas
de um anel, de uma manhã
do vento brincando com uma saia

Para  beber sozinho
não basta a garrafa e o copo
é preciso uma música triste
tocando na vitrola,
muitos cigarros
e um repertório de poemas decorados

Para beber sozinho
há que saber misturar
a bebida às lágimas
a saudade ao remorso
e embriagar-se disso..




terça-feira, 7 de março de 2017

Exclamação





Foi só um ponto
mas foi um ponto de exclamação
e de repente a página fulgiu

como se todas as palavras
brilhassem confusas
entre um travessão e uma vírgula

aquele ponto  foi um dizer
que não quer dizer
e exclama

aquela  exclamação
depois de meu nome
deixou meu coração aos pulos.








terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Gastronomia




Já comi no mercado central de B.H
quando só quem lá comia eram os pobres
já comi no Beco da Fome nas madrugadas
já comi angu do Gomes
já comi em lugares que só eu e as moscas frequentávamos
já comi muito pf no balcão
já comi as sobras em troca de lavar o banheiro do botequim.

Comi no bandejão
comi na quentinha
comi pão molhado

comi, sem manteiga,
o pão que o padeiro amassou

Bife de fígado
asa de galinha cozida
jiló
pele de torresmo
ovo colorido
sopa de retalho

A vida que eu levei
me dá água na boca.




sábado, 25 de fevereiro de 2017

Ganga bruta





Sonetos são para ourives
que encrustam no metal precioso
a gena rara

Sou minerador
cavuco no escuro
a ganga bruta.






sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Os ébrios do amor





Os ébrios do amor
não desistem de suas paixões
e os cínicos os miram com desdém

os ébrios do amor
não esquecem um só detalhe
impacientes, os céticos consultam seus relógios

os ébrios do amor
ainda estão tentando achar o Sonrisal
quando os lúcidos já estão no trabalho.

os ébrios do amor
plantam gerânios crisântemos e orquídeas
os áridos pisam-lhes os brotos

os ébrios do amor
cometem seus  poemas e fazem dedicatórias
mas os ácidos não os leem.

os ébrios do amor
curtem suas intermináveis  ressacas
como qualquer alcoólatra

as musas, enquanto isso,
passam batom vermelho
e brincam o carnaval com os sóbrios





sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Marido modinha





            Não vejo nenhuma graça em ficar velho. Nem graça nem vantagem. Além de tudo que vem com a decrepitude do corpo, há o enfaro da falta de novidades, essa sensação de já ter visto o filme. Poderia dizer que a vida depois de uma certa idade é uma espécie de sessão da tarde.
            Esse Brasil que caminha para trás, eu já vi. O festival de besteiras que assola o país, eu já vi. Os idiotas assumindo postos de mando, eu já vi. A classe média dando chiliques por ver o pobre, o negro, o nordestino ganhando espaço nas discussões e um pouco de cidadania, eu já vi. Até o fim do mundo eu já vi uma dezena de vezes.
            E tem as modinhas. Também já vi uma porção delas, e ainda que elas se renovam, algumas voltam. Tem um cara em São Paulo ganhando uma nota preta fazendo leitura de aura. Pois é, eu também achava que isso já tinha ficado no passado. Quem sabe, se eu viver mais uma década, ainda vá ver o renascimento do feng shui, do I ching e da terapia de vidas passadas.
            Lembro de uma dessas modinhas que, por ser demasiado ridícula,  não hei de ver novamente. Foi coisa dos anos 90 e felizmente naqueles tempos não havia redes sociais para dar vazão à bobagem. Tratava-se de gravidez. Uma mulher ficava grávida. Vinham os enjoos e ela ganhava uns 10, 12 quilos de sobrepeso. Os pés inchavam, os peitos inchavam, a cara inchava. A barriga enorme dificultava os movimentos mais simples,  o humor alterava. Tudo isso sem contar os palpites que tinha (e tem) de escutar sobre parto e criação dos filhos. Pois bem, sabe o que fazia o marido enquanto isso? Ele encontrava os amigos e dizia alegremente: referindo-se ao estado nada interessante da mulher:_ Nós estamos grávidos. Podia haver uma variante se o dito paspalhão fosse o típico marido modinha dos anos  90:: _ Minha companheira e eu estamos grávidos.
            Nos EE.UU, lugar de todos os exageros e imposturas, chegaram a fabricar uma barriga falsa que o sujeito "vestia" para "sentir" o que era a gravidez. Se me lembro bem, a "barriga" vinha com uns peitões bem ao gosto americano. Claro que para se livrar da barriga era só desafivelar e jogar em cima de alguma cadeira. Aquilo não haveria de lhe passar por nenhum orifício.




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Bichos?





Bichos?
Eu queria mesmo
era ter em casa um leão
sisudo e caladão

que não desse conselhos
nem palpites
e enchesse a cara de Rum Montila
todo fim de semana

Também podia ter
uma lagartixa clarinetista
que entre uma mosca e outra
tocasse o Bolero de Ravel

Ah! e um macaco expedido
que fizesse os mandados
e afanasse umas iguarias
nas prateleiras de produtos finos
do supermercado.




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Jorge raiz X Jorge Nutela





Jorge raiz                                   Jorge Nutela

Tinha saúde de ferro                   É diabético e bebe
e bebia cachaça                          café com leite com Zero Cal

Fumava maconha                       Fuma Minister e
e Continental                              Fumo Oliveira

Era canibal                                 Não come ninguém

Frequentava a quadra                 Assiste o carnaval
da Vila Isabel                              na Globo

Bebia cerveja                             Bebe cerveja no estacionamento
em qualquer botequim                do supermercado

Morava na Lapa                        Mora no Pinguirito

Jogava no bicho e                      Joga na Mega Sena e
às vezes ganhava                        acha que vai ganhar

Dançava no Elite                        Dançou

Jogava pelada no Aterro            Joga paciência no computador

Torcia pelo Galo                        Torce pelo Galo




terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Teu nome





Teu nome de terra turca
Teu nome  de maresia
Teu nome de renda fina
Teu nome

Teu nome que sabe a tâmaras
Teu nome que luz azul
Teu nome que soa a canto
Teu nome

Teu nome toque de pétala
Teu nome brilho de pérola
Teu nome vôo de pássaro
Teu nome

Teu nome em um livro raro
Teu nome em um mapa persa
Teu nome em um filme mudo
Teu nome

Teu nome o único tema
Teu nome a última cena
Teu nome o mágico instante
Teu nome

Teu nome que não esqueço
Teu nome que vem com a chuva
Teu nome que não mereço
Teu nome

Teu nome quer ser poema
Teu nome quer ser lembrança
Teu nome quer que eu o diga
Teu nome





quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Se





se
ao menos
não me tivesses amado
se ao menos
não tivesses dito
tantas coisas lindas


se
ao menos
me tivesses traído
enganado
abandonado
sem motivo
nem porquê

se
ao menos
não fosses tão bonita.