Um campo de futebol não é
propriamente um lugar para meninas do Colégio Sion. Numa cancha se faz e se
fala de um tudo. Do mais grosseiro palavrão à botinada mais desleal, tudo se vê
numa partida de futebol. Claro, me refiro ao futebol profissional. Entradas por
cima da bola e as mais contundentes cotoveladas, que tem como único objetivo
intimidar adversários, são comuns desde que a bola é redonda.
Creio até que as coisas já foram
piores. Dizem que Bilardo, o técnico campeão do mundo com a seleção argentina,
nos seus tempos de jogador, atuava com uma agulha na mão e propinava tremendas
espetadas nos adversários que se atreviam a pisar em seu lugar de trabalho, a grande
área.
Numa célebre entrevista concedida
para a revista Placar, em meados dos anos 70, Almir, o Pernambuquinho, soltou o
verbo e contou tudo o que havia feito, visto e ouvido nos gramados e vestiários.
Falou de intimidações e doping, violência e lambanças. Almir mostrou a vida nas
quatro linhas como ela é. Ou era. Sim, porque agora, para agregar uma nova modalidade
de safadeza e deslealdade, temos Luisito Suárez, o canibal da grande área.
Pela terceira vez em sua carreira,
Suárez mordeu um adversário. Não lhe deu uma botinada, violenta e intimidadora,
não aplicou uma cotovelada desleal e vingativa. Não, Luisito usou, mais uma vez,
de seus protuberantes incisivos para agredir quem tentava roubar-lhe a bola.
Fosse em outros tempos, de menos câmeras e recursos tecnológicos, suas dentadas
talvez passassem despercebidas por torcedores e comissões disciplinares. Hoje
não. Milhões de aparelhos de TV mostraram suas canídeas performances. As
imagens foram parar no youtube e lá estão eternizadas.
Veio a punição. Não a primeira nem a
segunda, pela terceira vez Suárez foi punido pelo mesmo motivo. Da primeira vez
foram 7 jogos de suspensão, da segunda, 10 e agora, além dos nove jogos em que
não poderá defender a seleção de seu país, Luisito ficará afastado dos gramados
por 4 meses.
As revistas, jornais e sítios
informativos falam, quase unanimemente, de punição excessiva, de humilhação, de
falta de critério do órgão máximo do futebol mundial. Fala-se, e com razão, que
qualquer punição dada a Suárez seria arbitrária, fosse ela de apenas um jogo ou
a que se aplicou. Sim, é verdade, afinal não há uma jurisprudência da FIFA para
aplicar punições. Também falou-se, e nesse caso sem nenhuma razão, que Suárez
deveria ser julgado pela dentada em Chiellini e não pelas outras. Ora, em
qualquer lugar do mundo, em qualquer legislação, a reincidência na falta é
agravante quando se aplicam punições.
Outro argumento dos que acham que a
pena imposta foi demasiado rigorosa, trata da entidade que a aplicou. Falam da
corrupção mais que evidente na FIFA. Mas, digo eu, a FIFA não está punindo
ninguém por corrupção, seu ponto fraco, a punição é disciplinar. Permitir que
Luis Suárez continue agindo da maneira como tem agido nos gramados, seria o
cúmulo da leniência. Para mim, a punição foi justa, talvez pequena.